Uma trabalhadora das letras
Prosadora de mão cheia, Dinah Silveira de Queiroz (1911–1982) publicou contos e romances de destaque, adaptados para o cinema e para a televisão. Dedicou-se também ao ofício de cronista, publicando mais de 11 mil textos ao longo de 40 anos. Suas crônicas eram veiculadas em jornais e muitas delas lidas no rádio, o que lhe conferiu imenso prestígio popular. Uma seleta dessas crônicas foi publicada no livro Café da manhã, de 1969.
Da biografia à obra literária, Dinah Silveira teve uma trajetória fora do comum. Segunda mulher a ingressar na Academia Brasileira de Letras, transitou, sem usar pseudônimos, entre o mundo da literatura e o da indústria cultural, escrevendo para os principais jornais e colaborando com as maiores rádios, como o Jornal do Commércio, a Rádio Nacional e a Rádio Ministério da Educação (MEC).
De fato, a leitura radiofônica foi uma particularidade de sua obra. Algumas crônicas eram escritas para o impresso e depois migravam para as ondas curtas. Essas contavam com scripts da escritora, que inseria marcações textuais de oralidade para a adaptação. Outras, escritas exclusivamente para a oralidade, já nasciam nesse registro, como as do seu programa “Café da manhã”, da Rádio Nacional, na década de 1950.
Em “Os fantasmas em sua casa”, por exemplo, crônica inaugural de tal programa, Dinah faz referências à voz masculina que levava suas palavras aos ouvintes, uma vez que seus textos eram sempre interpretados por locutores ou atores homens, como Paulo Autran: “Eu, apenas uma ideia, uma chama. Ele, a voz, este misterioso corpo do pensamento humano”. A voz feminina de seu texto, no entanto, sempre está demarcada.
O olhar sensível da cronista para fatos noticiados era uma marca de sua produção para a Rádio Nacional. Mas foi mesmo a naturalidade da conversa de sua palavra falada que garantiu o sucesso de seu programa. Afinal, Dinah não escrevia os textos, mas os ditava. Ela decidia o assunto após a leitura dos jornais, durante seu desjejum, e em conversa com sua secretária, para a qual ditava suas reflexões sobre o cotidiano.
Dinah foi casada com o embaixador Dário de Castro Alves, autor do livro de memórias Dinah, caríssima Dinah, e conciliando a vida de escritora com a sua carreira diplomática, sempre em viagem, a autora levava aos leitores e ouvintes impressões do cotidiano das cidades por onde passou e viveu, em crônicas ambientadas no Rio, em Moscou, Madri, Lisboa e Roma.
Na MEC, era um dos sete cronistas que escreviam para o programa "Quadrante", entre 1961 e 1964, junto com Carlos Drummond de Andrade, Cecília Meireles, Fernando Sabino, Manuel Bandeira, Paulo Mendes Campos e Rubem Braga. A cada dia da semana, uma crônica ia ao ar na voz do ator Paulo Autran.
A temática feminina marca a produção de Dinah a partir de personagens que fugiam a estereótipos e traziam reflexões da cronista embutidas em cenas do cotidiano narrado. Uma seleção das crônicas do programa foi publicada nos livros Quadrante (1962) e Quadrante 2 (1963).
Sem dúvidas, o ingresso na Academia Brasileira de Letras foi uma conquista da autora, que passou a ocupar a cadeira 7, que tem Castro Alves como patrono, em 1980. No discurso de sua recepção, os acadêmicos louvaram a capacidade de Dinah, “uma trabalhadora das letras”, de praticar tantos registros diferentes: além de romances, contos e crônicas, escreveu teatro, literatura infantil e ficção científica, sendo uma das pioneiras do gênero no Brasil. A escritora morreu pouco depois, em 27 de novembro de 1982. A publicação de sua crônica no Portal é um movimento de resgate de sua obra, merecedora de novas reedições.
Cláudia Thomé
1911
1925
1929
1937-1938
1939
1940
1941
1949
“Acho que amo Margarida La Rocque porque é o inferno de uma paixão de mulher. Nesse livro, a perseguida se faz perseguidora, a paixão de Margarida La Rocque é o pior demônio da sua ilha. [...] Todas as vezes que uma pessoa se apaixona, ela se torna quase um demônio, porque exige demais dos outros, suspeita demais, ela é, como eu disse, a perseguida perseguidora.”
1954
1956
1957
1960
1961
1962-1964
“Tenho um péssimo costume: não sei guardar pensamento, sem passá-lo para esta crônica. Às vezes são alegres e soam aqui como clarinadas; outras são tristes e não devem ressoar muito bem num dia que começa. Mas não posso evitar confidências ou desabafos”. (“O menino e sua aventura”, crônica veiculada no “Café da Manhã”, da Rádio Nacional, na década de 60).
1965
1966
1968
1969
“A crônica é a fraqueza do jornal. Com isso não estou desmerecendo o gênero. Mas todo o jormal que se preza deve ser preciso e austero. A crônica, necessariamente, carece fugir da fria exatidão e da austeridade, e ainda que muitas vezes alcance em cheio o seu objetivo SÉRIO, não deve vestir a roupagem sisuda” (“Quem quer esposar a crônica”, A Manhã, 17/06/1949).
1974
1977
1979
1980
1982
*Cronologia elaborada por Katya de Moraes baseada na da Academia Brasileira de Letras.