menu
Sobre o portal
Crônicas
Autores
Rés do Chão
Artes da Crônica
Créditos
Contato
Portal da
Crônica Brasileira
buscar
-
A
+
A
Login
Artes da Crônica
O
c
r
o
n
i
s
t
a
s
e
d
i
r
i
g
e
a
u
m
a
p
e
s
s
o
a
q
u
e
t
e
m
a
m
e
s
m
a
s
e
n
s
i
b
i
l
i
d
a
d
e
q
u
e
e
l
e
Ivan Angelo
Aproximações
30 set 2024
Um gênero tipicamente brasileiro
Humberto Werneck
Eternamente deleitável ou imediatamente deletável — depende menos do tema do que das artes do autor —, a crônica pode não ser um “gênero de primeira necessidade, a não ser talvez para os escritores que a praticam”, como sustentava Luís Martins (...). Um subgênero, há quem desdenhe. “Literatura em mangas de camisa”, diz-se em Portugal. Mas, para o crítico Wilson Martins, trata-se de uma “espécie literária” que de jornalístico “só tem o fato todo circunstancial de aparecer em periódicos”. Num estudo memorável, “A vida ao rés do chão”, de 1980, recolhido no volume
Recortes
, o crítico Antonio Candido admitiu que “a crônica não é um ‘gênero maior’” — para em seguida se rejubilar: “‘Graças...
6 ago 2024
"Para gostar de ler", entrevista com Jiro Takahashi
A coleção “Para gostar de ler”, publicada pela editora Ática na década de 1970, é uma das mais importantes iniciativas editorias para a crônica, pois difundiu o gênero nas escolas de maneira irreversível. Alunos de todo o país tiveram contato com a obra de
Fernando Sabino
,
Carlos Drummond de Andrade
,
Paulo Mendes Campos
e
Rubem Braga
numa seleta generosa que acompanhou os cinco primeiros volumes da coleção. Com o sucesso de vendas, a coleção foi expandindo seu escopo e publicou também coletâneas de poesia, contos e mesmo de cronistas mais jovens, como Luis Fernando Verissimo e
José Carlos Oliveira
. O responsável por tudo isso foi Jiro Takahashi,...
20 mai 2024
Carlos Drummond de Andrade, cronista
Flora Süssekind
Trata-se de uma obra em que se imbricam marcas ligadas tanto ao trabalho como cronista, quanto ao exercício poético. E de um personagem bifonte: o poeta-cronista. Para melhor compreender o Drummund poeta há uma pista sugerida numa bela série poética, “Canções de alinhavo”, incluída em
Corpo
(1984): “Stéphane Mallarmé esgotou a taça do incognoscível. / Nada sobrou para nós senão o cotidiano / que avilta, deprime.” Pista que em parte se encontra com outra, enunciada em “Carta a Stalingrado”, de
A rosa do povo
: “A poesia fugiu dos livros, agora está nos jornais”. É como se o poeta enfatizasse, nesses trechos, a sua trilha preferencial — de poeta-cronista —, num momento em que parecia caber à...
23 nov 2023
Crônica anacrônica: quando o tempo define a política
Natália Guerellus
De literatura para “embrulhar sapato e forrar chão de cozinha”, como disse Antonio Candido, de escrita leve, cúmplice e direta, a crônica já serviu de matéria para muitas definições. Ainda mais porque este subgênero narrativo fez grande sucesso com a expansão da imprensa ao longo do século XX no Brasil, antes que a televisão cooptasse a maioria dos seus leitores. Mas não só de temas – políticos, amorosos, quotidianos, ficcionais ou não – e matéria – papel, caneta, jornais e revistas (impressos ou digitais), é feita a crônica. Durante uma pesquisa para livro, que durou dez anos, investiguei o fundo de crônicas de Rachel de Queiroz (1910-2003), depositado no Instituto Moreira Salles. Meu interesse voltou-se, sobretudo,...
27 out 2023
Machado de Assis, o jornalista aprendiz
Cristiane Costa
Machado de Assis é uma espécie de mito fundador para a literatura brasileira. A partir dele, tudo passou a ser possível. Como se as conquistas de um determinado indivíduo num determinado contexto histórico estivessem abertas para todos os que se aventurassem a trilhar o seu caminho. Mas mesmo nosso mito fundador não brotou do nada. Para encontrar seu caminho, Machado seguiu a mesma estratégia de escritores jornalistas marcados pela cor, como Teixeira e Souza e Paula Brito. Afinal, de que forma um jovem mulato, pobre, órfão e epilético poderia se firmar como o maior escritor brasileiro de uma sociedade escravagista? Entrando nos salões da literatura pela porta de serviço: o jornalismo. E, se alguém tão estigmatizado conseguiu, por...
17 mar 2023
O resto é aflição de espírito
Flávio Pinheiro
É possível conciliar ceticismo e lirismo? O ceticismo descrê, desconfia; o lirismo crê e frequentemente confia demais. Na formidável prosa de Paulo Mendes Campos, ceticismo e lirismo são gumes do mesmo punhal, que fere fundo ou desbasta macio, dependendo do paradeiro da crônica. O niilismo o faria opaco. O pessimismo, enfadonho. Ceticismo não tem contraindicações literárias. “São seis os elementos: ar, terra, fogo, água, sexo e morte. Não, são sete: e lirismo.” A definição reafirma o compromisso fundamental com a poesia. Nas fúria dos elementos os sinais vez por outra estão trocados. O lirismo é cortante e o ceticismo sutura “desregramentos do espírito” que ele diz ter herdado do avô português. Seria simplificar...
31 mar 2022
A crítica social em Rubem Braga. Impressões de estudiosos e cronistas
Ana Karla Dubiela
O lirismo em prosa da obra de Rubem Braga, que chamou a atenção de estudiosos da literatura, como Afrânio Coutinho, Antonio Candido, Jorge de Sá, Davi Arrigucci Jr. e Affonso Romano de Sant’Anna, entre outros, permeia os mais variados temas. É ainda mais patente nas histórias românticas, nas reminiscências da infância, no contato com a natureza ou na análise da própria poesia e da prosa. No entanto, é ainda mais curioso como o cronista deixa aflorar esse mesmo lirismo em temas áridos como os bastidores da guerra na Itália, em 1945, ou na crítica social, que, em maior ou menor número de crônicas, está presente em suas coletâneas. Na obra que reúne o maior número de crônicas de Rubem Braga,
200 Crônicas escolhidas
...
9 mar 2022
Crônica e modernismo, entrevista com Ivan Marques
Ivan Marques é professor de literatura brasileira na Universidade de São Paulo. Recentemente, publicou a biografia
João Cabral de Melo Neto
(Todavia, 2021), premiada pela APCA. É autor também de
Cenas de um modernismo de província: Drummond e outros rapazes de Belo Horizonte
(Editora 34, 2011),
Modernismo em revista: Estética e ideologia nos periódicos dos anos 1920
(Casa da Palavra, 2013),
Para amar Graciliano
(Faro, 2017),
Orides Fontela
(EdUERJ, 2020), entre outros. Como pesquisador, escreveu diversos artigos sobre modernismo, poesia brasileira e as relações entre literatura e cinema no Brasil, além de prefácios para livros de crônicas de Carlos Drummond de Andrade e Paulo Mendes Campos. Como...
30 jun 2021
Introdução
Joaquim Ferreira dos Santos
A crônica não quer abafar ninguém, só quer mostrar que faz literatura também. Textos feitos para o momento e que, pela qualidade, vão ficar para sempre. Eis o breque deste livro. As cem crônicas e os 62 autores que transformaram um gênero, chamado ora de menor, ora de literatura de bermuda, num chorrilho interminável de grandes clássicos de referência de bons momentos em nossa língua. Salve! Viva! O monumento de nação redigido em cada linha de
Dom Casmurro
e
Grande sertão ― veredas
, mas preste atenção agora que Rubem Braga vai começar, assim como quem não quer nada, a sua “Aula de inglês”. É uma crônica de fala mansa, sem aparentar pompa ou qualquer circunstância, como é típico da espécie, mas...
26 mai 2021
O desenhista Rubem Braga
Joaquim Ferreira dos Santos
Rubem Braga (1913-1990) era um grande apreciador das artes visuais, e não só como crítico, função que teve em vários momentos de sua vida, mas também como praticante. Ele desenhava. Bem. Eram peças simples, sem pretensão, para passar o tempo, relaxar, mas tinham um traço original de quem poderia ir mais longe se não tivesse tantas crônicas para escrever. Ao contrário de Antônio Maria, que chegou a ilustrar suas crônicas com as caricaturas que produzia, o desenhista Rubem Braga foi doméstico. Desenhava enquanto estava com os amigos, e não se levava a sério nessa atividade. Ao morrer, foram encontrados poucos exemplos dessas obras em suas gavetas. O resto não se deu ao trabalho de guardar. Eram em geral desenhos a lápis e...
17 mar 2021
Sambista, cronista e caricaturista
Joaquim Ferreira dos Santos
O pernambucano Antônio Maria (1921/1964) foi narrador de jogos de futebol, diretor de rádio, apresentador de programas de televisão, redator de humorismo, cronista, autor de
jingles
, compositor e, a menos conhecida de suas
performances
, caricaturista. Em sua passagem pela imprensa do Rio, principalmente em
O Jornal
, entre 1962 e 1964, ele próprio ilustrava algumas de suas colunas. Podia não ter muita técnica, mas tinha personalidade. Um dos truques de Maria para fazer suas colunas de jornal (trabalhava demais) era responder cartas dos leitores. Fernando Augusto Lima lhe perguntou por que desenhava: “Entrei para o rol dos caricaturistas para iniciar um grande movimento nacional pela caricatura. Não a que...
19 fev 2021
Fragmentos sobre a crônica
Davi Arrigucci
O que será a crônica
[1] Esse gênero de literatura ligado ao jornal está entre nós há mais de um século e se aclimatou com tal naturalidade, que parece nosso. Despretensiosa, próxima da conversa e da vida de todo dia, a crônica tem sido, salvo alguma infidelidade mútua, companheira quase que diária do leitor brasileiro. No entanto, apesar de aparentemente fácil quanto aos temas e à linguagem coloquial, é difícil de definir como tantas coisas simples. São vários os significados da palavra
crônica
. Todos, porém, implicam a noção de tempo, presente no próprio termo, que procede do grego
chronos
. Um leitor atual pode não se dar conta desse vínculo de origem que faz dela uma forma do tempo...
25 jan 2021
A crônica como gênero literário
Luiz Ruffato
Penso que a certa resistência em compreender a crônica como gênero literário específico assenta-se basicamente num preconceito e num estereótipo. O preconceito advém de sua dupla origem plebeia: nascida nas páginas dos jornais, veículo utilitário e descartável, é cultivada em troca de uma remuneração em dinheiro. Nada mais abominável para aqueles que imaginam um ofício aristocrático para as letras... Já o estereótipo é aquele que reduz a crônica a “um comentário ligeiro a respeito de assuntos cotidianos, vazado numa linguagem simples e direta”, como se “ligeiro” fosse sinônimo de “superficial”, “assuntos cotidianos” fossem “irrelevantes” e “linguagem simples e direta” equivalesse a “linguagem...
11 dez 2020
A vida ao rés do chão
Antonio Candido
A crônica não é um “gênero maior”. Não se imagina uma literatura feita de grandes cronistas, que lhe dessem o brilho universal dos grandes romancistas, dramaturgos e poetas. Nem se pensaria em atribuir o Prêmio Nobel a um cronista, por melhor que fosse. Portanto, parece mesmo que a crônica é um gênero menor “Graças a Deus”, – seria o caso de dizer, porque sendo assim ela fica mais perto de nós. E para muitos pode servir de caminho não apenas para a vida, que ela serve de perto, mas para a literatura, como dizem os quatro cronistas deste livro na linda introdução ao primeiro volume da série. Por meio dos assuntos, da composição aparentemente solta, do ar de coisa sem necessidade que costuma assumir, ela se ajusta...
11 dez 2020
A crônica (notas em julho de 2006)
Ivan Angelo
Aproximações
A crônica é o espaço em que o escritor transita pelo cotidiano, discute eventos, opina, reivindica, ironiza, evoca, conta casos, experimenta escritas, expõe emoções. *** O segredo da crônica é que ela atua como uma relação pessoal entre o narrador e o leitor. Como se fosse escrita só para esse leitor, como se só com ele o escritor tivesse aquela comunhão. O cronista se dirige a uma pessoa que tem a mesma sensibilidade que ele. *** A fragilidade da crônica resulta de que ela trata do momento; seja um fato ou um sentimento, esteja o assunto fora do narrador ou dentro dele, o objeto da crônica é explorar a relação do narrador e do leitor com o momento. Algo que vai ser perdido se não anoto,...
9 nov 2021
Pintura do cotidiano
Ana Karla Dubiela
Curvas, cores e músicas internas
“
E de repente compreendo que minha música interior não a recebo pelo ouvido, impreciso e deseducado, mas pela visão das linhas e das cores. É de ver pintura e desenho que tenho saudade e fome quando o jogo da vida me cansa; é a pintura que me apazigua e me faz sonhar. Sou, entretanto, um viciado quase grosseiro e me culpo de não ter nunca afinado melhor essa regular sensibilidade que nasceu comigo
.”
(Rubem Braga)
“
No retrospecto de meio século de literatura brasileira, publicado em um dos números de cinquentenário do Correio da Manhã, Lucia Miguel-Pereira destacou na prosa de Rubem Braga o traço que apresentaria em comum com toda a poesia nova: preeminência da palavra sobre a frase, do pormenor sobre a linha, de cada nota sobre a melodia, da cor sobre o desenho
...
16 jul 2021
Um jornalista brasileiro
Gustavo Zeitel
Cumpria-se na rua do Ouvidor uma lei que obrigava todo cidadão carioca a falar por oxítonas. Trocava-se o bom-dia pelo “bonjour” sem medo de desbotar a última flor do Lácio. Era preciso abrir a avenida Central, botar abaixo cortiços e sobrados, erradicar peste e cólera. No bruaá da confeitaria Colombo, tudo era assunto. Santos Dumont e o 14-BIS, os bafafás dos salões literários, as maravilhas do polvilho antisséptico Granado. Vestida de República, a modernidade batia à porta do Brasil sem uma gramática normativa. Ordem e Progresso: as reformas urbanas do prefeito Pereira Passos ambicionavam transformar o Rio de Janeiro em uma “Paris Tropical”. O livro
A alma encantadora das ruas
(1908), de João do Rio, amadureceu...