Rubem Braga

Rubem Braga (1913-1990) pode ser considerado uma das raras unanimidades da literatura brasileira. De fato, está para surgir um cronista que a ele se equipare – e não só pela qualidade altíssima de sua obra, gotejada no dia a dia da imprensa ao longo de quase 60 anos. Ele foi também um caso quase singular de fidelidade ao gênero, que praticou em regime de radical monogamia entre a primeira crônica, sem título, publicada no Diário da Tarde, de Belo Horizonte, em 14 de março de 1932, e a última, “A paz de Santa Maria de Maricá”, entregue a O Estado de S. Paulo horas antes de sua morte, na noite de 19 de dezembro de 1990, e estampada junto a seu necrológio, dois dias depois.

Homem de poucas e exatas palavras, o “Sabiá da crônica”, como o rotulou Sérgio Porto, ou “o velho Braga”, como ele próprio dizia de si desde a juventude, era exceção entre seus pares também por não se meter em discussões literárias. Quando, por exemplo, lhe pediram que definisse o gênero, encerrou a conversa com humor muito seu: “Se não é aguda, é crônica”.

Antes de se fixar numa cobertura na rua Barão da Torre, na Zona Sul do Rio, onde plantou horta e árvores frutíferas – o que levou o colega Paulo Mendes Campos a considerá-lo “o único lavrador de Ipanema” –, Rubem Braga foi um escriba andejo. Saiu cedo de sua Cachoeiro de Itapemirim, no Espírito Santo, e pegou um caminho que o fez viver em Niterói, Belo Horizonte, São Paulo, Porto Alegre e Recife, com idas e vindas ao Rio, além de localidades diversas na Itália, como correspondente na II Guerra Mundial, Paris, como correspondente já em tempos de paz, Santiago do Chile, onde foi cônsul, e Rabat, no Marrocos, na qualidade de embaixador do Brasil.

No fio dessas andanças, Rubem Braga escreveu crônicas que selecionou para duas dezenas de coletâneas, parte das quais contida em 200 crônicas escolhidas. Por sua obra, marcada por lirismo sóbrio e humor agridoce, interessou-se a melhor crítica brasileira, estudiosos como Antonio Candido, Decio de Almeida Prado, Augusto Massi e, em especial, Davi Arrigucci Jr., em mais de uma ocasião debruçado sobre “o encanto extraordinário da prosa de Rubem Braga”. Com ele, escreveu Arrigucci, “estamos sempre ao pé do fogo, esperando a próxima”. É que o faremos também nós, aqui neste reduto da melhor crônica brasileira.

Humberto Werneck