Adamastor anda na sala e olha a folhinha. Seis de julho. Há 89 anos morreu Castro Alves, na Bahia. "Que mau poeta"! – exclama Adamastor. Acha que Castro Alves enganou duas gerações e, em sua poesia, não passou de um orador baiano, em nada melhor que J. S. Seabra e Otávio Mangabeira. Sorri da pretensão: "Sinto, em mim, o borbulhar do gênio!" Sobre São Paulo, explica Adamastor, porque se mudou de lá: a) Os homens, mesmo sem ser grandes, se chamam de Carlão, Luizão e Zelão; b) A tendência de toda mulher para abrir uma "boutique", escrever um livro de versos e fazer um pote de cerâmica; c) A necessidade que todos têm de explicar o cuscuz paulista, que "é diferente dos outros"; d) Os sambas do tipo Maloca querida, que dizem: "Onde nós passemos dias feliz de nossa vida"; e) As dez mil vezes que ouviu dizer: "Quando vou ao Rio só me hospedo no Anexo"; f) O orgulho cantinal paulista, na frase: "as nossas cantinas são, realmente, melhores que as de vocês". Adamastor considera teste de sensibilidade gostar, ou não, de cantina – casas de comidas penduradas no teto onde, de cinco em cinco minutos, pode cair uma garrafa de chianti e matar um freguês. Em sua pátria, vai pouco ao balé, por causa dos intervalos. É quando as pessoas locais dizem maior número de coisas inconvictas. Evita falar com a maioria das pessoas que chegam da Europa, porque a conversa termina sempre nesta frase: "É... mas, Paris é sempre Paris!" E contam que foram a uma cave, onde um homem cantava uma nova canção muito engraçada: "Boire en petit coup c'est agreable." Adamastor, embora precise muito, não faz estações de águas porque odeia amizades de estações de águas. São pessoas que, para o resto da vida, vão exclamar (suspirosas) ao encontrá-lo: "Lembra-se daquela nossa temporada em Poços!" Das reuniões políticas, acha muito curioso, quando se conta uma, da UDN. Alguém pergunta, invariavelmente: "E o Brigadeiro, o que foi que disse?" E alguém responde, invariavelmente: "Nada".