Fonte: coluna "Jornal de Antônio Maria",  Última Hora, de 13/12/1960.

Um conhecido meu, gordo de nascença que, há um mês, deixei magro, volto a vê-lo, hoje, mais gordo do que era antes. Claro, não lhe disse uma palavra, porque sei quanto dói a frase:

― Você engordou, outra vez.

Foi ele que me veio falar. Querendo fingir algum entusiasmo pela volta dos quilos, comunicou que abandonara o regime, tratamento, tudo e estava muito feliz:

― Assim é melhor.

Mas, o paletó não abotoara direito e o colarinho o sufocava. Nas calças, não se tinha a menor ideia onde, antes, houvera vincos. Os cordões dos sapatos estavam desamarrados, sinal de que, amarrá-los, voltara a ser uma ginástica incômoda.

― Por quê? ―... perguntei-lhe, evitando o verbo “engordar”. Contou-me que a família e os amigos, principalmente os amigos o aconselharam a voltar a comer, porque estava perdendo a graça e a saúde.

Aqui é que começa a nossa mensagem aos gordos. Quem tem mais peso do que deve e, se esse excesso é deformante, tem obrigação de emagrecer. Primeira coisa a fazer. Arranjar um motivo. Digamos, amor. E dizer, de si para si: “eu preciso emagrecer para participar disto e daquilo”. Então, começar o regime, que deve ser feito com assistência médica e entusiasmo, na direção da meta: emagrecer. Agora, o principal: evitar os conselhos dos amigos. Os amigos são os piores inimigos de quem faz um regime para emagrecer. São os que chegam perto de nós e dizem: “Você está perdendo sua alegria”. Ou então: “Você já não é aquela pessoa com quem se podia conversar”. E afinal: “Pare com essa idiotice e comece a comer tudo, a partir de amanhã”.

Esses mesmos amigos, se lhes seguimos os conselhos, se voltamos a engordar, dizem-nos, implacavelmente, na vez do primeiro encontro:

― Rapaz, você parece uma baleia! 

Portanto, já que os gordos podem e devem emagrecer, que evitem os amigos, no decorrer do regime. Conversar, só com pessoas com quem não temos intimidade. E, se possível, com os inimigos.

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