Tudo entre nós havia que continuar sendo casual. Não tínhamos nada que marcar encontro das cinco e quinze, no tal bar, tido e havido como discreto. Resultado: aquele sem jeito, aquela falta de ar, aquela vontade de voltar para casa, que nós, apesar de lúcidos e afins, não conseguimos explicar. Mas que foi engraçado, foi. Primeiro, para termos direito a uma mesa, o garçom exigiu que fizéssemos uma despesa qualquer. Dinheiro havia. O que nos faltava era apetência. Deixamos a cargo do garçom o preço que haveríamos de pagar pelo local e pela discrição do nosso rendez-vous. Podia ter estourado um Moët & Chandon, mas, homem cauto, olhando-me nas alpargatas, trouxe-nos uma coca-cola tamanho família e um sanduíche de grande montagem. Eu, como sempre brilhante naquilo que irei dizer e em tudo que poderia ter dito, na hora de falar, não disse coisa nenhuma. Julguei que se tratasse de uma simples burrice inicial que passaria tão logo nos habituássemos à novidade de estarmos sós. Mas não. Andou o tempo e nós continuamos naquela conversinha de Alvarenga e Ranchinho, que não vende nem compra coisa alguma. Repare bem, o que dissemos não valia mais que: "ehh, cumpade... pois é... tá sorto". E por quê? Prometemos, no dia seguinte, uma explicação telefônica que nos reabilitasse, um para o outro e cada qual perante si mesmo. Infelizmente, prezada senhora, a explicação encontrada não é das mais honrosas. Primeiro, para esse negócio de namoro, é preciso ter peito. Nós não temos, hélas! Depois, é necessário, ao menos no começo, que um leve o outro no bico. E nós não podemos. Somos muito puros, um no outro. Muito iguais, muito devassados, um para o outro. Podemos falar, sim, já falamos. Mas, na realidade, não temos nada que contar um ao outro. Em nosso caso, desgraçadamente, seria chegar, abraçar e deixar sentir. Mas cadê peito? Continuemos, então, a viver dos acasos, até que um deles, um dia, seja o mais importante e cumpra, afinal, o nosso fado.