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Portal da Crônica Brasileira

 
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15 set 2022

Um brinde a Stanislaw Ponte Preta

Guilherme Tauil
Hoje é dia de festa. Sérgio Porto, ou melhor, Stanislaw Ponte Preta, o heterônimo que adotou, é o décimo quarto cronista da nossa escalação do Portal. O criador de alguns personagens que ainda hoje habitam o imaginário brasileiro chega com uma pequena amostra de sua inventividade ímpar e de seu estilo absolutamente livre em 14 textos selecionados, que vão do humor escrachado à fina melancolia da memória. Muito bem acompanhado, o cronista estreia com o reforço vocal do músico Bruno Cosentino, que gravou uma leitura de “Casa demolida”, uma das mais belas crônicas de sua lavra, e da caneta de Sérgio Augusto, que assina um perfil biográfico saboroso e completinho: do início da labuta na imprensa, pelas mãos do tio e crítico...
31 ago 2022

Trabalhadores cariocas

Guilherme Tauil
De manhã cedo, no compasso preguiçoso do raiar do dia, Rubem Braga botou a chaleira no fogo para fazer café e abriu a porta do apartamento para recolher o pãozinho costumeiro, deixado pelo padeiro. Mas não tinha nada lá. No mesmo instante, lembrou-se “de ter lido alguma coisa nos jornais da véspera sobre a ‘greve do pão dormido’” – não muito bem uma greve, mas “um locaute, greve dos patrões, que suspenderam o trabalho noturno” achando que “obrigando o povo a tomar seu café da manhã com pão dormido” conseguiriam não sei o quê do governo.  O cronista tomou seu café com pão amanhecido, “que não é tão ruim assim”, e recordou-se de “um homem modesto” que conheceu. Toda manhã, quando ia deixar o pão...
15 ago 2022

Pelas ruas de São Paulo

Guilherme Tauil
No fim da tarde, depois de passar o dia trabalhando em uma reportagem, Rubem Braga retornou ao apartamento. Era mais um “homem só nesta cidade de São Paulo”. Ligou para dois colegas, ninguém atendeu. Procurou pelo seu caderno de endereços, ou mesmo por uma lista telefônica, e nada. O jeito era sair por conta própria, “sem programa, pelas calçadas formigantes” daquele começo de noite paulistana. Num “desses cafés movimentados da avenida São João”, O aventureiro entrou e pediu um pastel feito na hora, com os quais costumava, em outros tempos, enganar a fome nas “noites frias, solitárias e sem dinheiro”. Para acompanhar, uma batida. E depois “um sanduíche e mais um pastel e um café”. Saciado, o cronista retomou...
1 ago 2022

Três baianos

Guilherme Tauil
Em Itapuã, bem em frente à Paróquia de Nossa Senhora da Conceição, não muito distante da lagoa escura do Abaeté, está a Praça Caymmi. O local foi batizado, é claro, em homenagem ao mais célebre compositor da Bahia, que cantou sua terra e seu povo como ninguém. Felizmente, Dorival ganhou as flores em vida, como pede o samba, e pôde estar presente na festa de inauguração da própria praça, em 1953. Além de toda a patota política local, havia uma orquestra com piano e uma porção de artistas, locutores de rádio, jornalistas. Em volta do palco, “povo, povo, povo”, anotou Rubem Braga, que, ao lado de Antônio Maria, também assistia à cerimônia. No alto, “entre nuvens brancas tangidas pelo vento, imensa e solitária, a...
18 jul 2022

De passagem por Portugal

Guilherme Tauil
Rachel de Queiroz conheceu Portugal de olhos fechados. Não tinha mapa nem placa que indicasse que aquele “rio tranquilo, muito largo e com pedras à margem”, por onde ia de barco, fosse português – “mas que era Portugal, não tinha dúvida”. Aos poucos, “uma cidade ou aldeia com casas antigas, abarracadas, subindo um morro”, foi se revelando. Eram tantos pomares que “o rio se afundava entre as árvores e se virava num riachinho à toa”. Daí, como acontece em muita História de sonho, quando a realidade empresta um pouco da fantasia do onírico, de repente “já não tinha riachinho, nem barco, nem nada”. Estava era dentro de uma casa, numa sala “com móveis pesados de talha” e “cortinas vermelhas de veludo”, habitada...
30 jun 2022

A aurora de nossas vidas

Guilherme Tauil
“Jamais esquecerei o meu aflitivo e dramático contato com a eternidade”, disse Clarice Lispector ao mascar chiclete pela primeira vez. Como se vê, para a nossa sorte, desde criança a escritora era dada a entraves filosóficos. Naquele Recife da década de 1920, chiclete era artigo de luxo – uma só pastilha custava o mesmo que uma porção de balas.  Na matemática infantil, a iguaria era inalcançável. Foi a irmã mais velha que poupou trocados e presenteou a novidade para Clarice.  Junto com o doce, veio uma advertência gravíssima: “Tome cuidado para não perder, porque esta bala nunca se acaba. Dura a vida inteira”. Perplexa, a pequena quase não acreditou no milagre. Ela, que tantas vezes “tirava da boca uma bala ainda...
15 jun 2022

Cronistas e pintores

Guilherme Tauil
“Estou convencido que nessa coisa de pintura a gente de vez em quando deve ficar uns tempos sem ver nada”, e aí, um dia à toa, “como quem vai matar meia hora antes de ir para o escritório”, entrar em um Salão “com os olhos inocentes, distraídos” e, sem se importar com autoria e escolas, deixar que “o sentimento da gente vagabundeie” pela exposição de arte. O entusiasmo por atravessar uma galeria num “passeio vadio, sem catálogo”, é de Rubem Braga, cujo gosto pelas artes plásticas se evidencia em todo o seu trabalho – tanto na literatura, com crônicas que revelam grande sensibilidade artística, quanto no jornalismo, com pitacos analíticos em artigos, perfis e entrevistas com diversos pintores. Uma farta seleta...
31 mai 2022

Coração de mãe

Guilherme Tauil
Eram três as coisas pelas quais Clarice Lispector vivia: amar os outros, escrever e criar seus filhos. As três experiências eram seu norte. Amar os outros, como sabem os bem-aventurados, é uma disposição tão vasta que incluía até o perdão para ela mesma, “com o que sobra”. Escrever, uma vocação constantemente aperfeiçoada pela “vida se vivendo em nós e ao redor de nós”, era seu “domínio sobre o mundo”. Quanto à maternidade, que escolheu viver de caso pensado, era um remédio para a solidão: “Se eu não fosse mãe, seria sozinha no mundo”, disse, embora ciente de que um dia seus dois meninos abririam “as asas para o voo necessário”. Afinal, não é segredo que não criamos “os filhos para a gente, nós...
16 mai 2022

Juntando os trapos

Guilherme Tauil
Maio, você sabe, é o mês das noivas. É possível que a tradição tenha sido importada do hemisfério de cima, onde a primavera está em seu auge, rebentando em flores e cores. Nada mais adequado para uma festa de casamento. Outros apontam uma provável origem no cristianismo, que dedica o mês à devoção de Maria, mãe de Jesus e, por extensão, de um mundaréu de gente. A ideia um pouco antiga de que casamento está relacionado à maternidade seria a justificativa. Seja qual for a razão, convencionou-se que maio é o mês dos casamentos – embora, no Brasil, dezembro seja o período em que mais se celebra a junção de panos. A filha de Antônio Maria não tinha idade para saber de nada disso quando entrou no escritório do pai com...
2 mai 2022

Um cafezinho com Otto

Guilherme Tauil
O escritor Otto Lara Resende nasceu em São João del-Rei, Minas Gerais, em primeiro de maio de 1922. Tornou-se agora, portanto, um centenário. Para a celebração do marco, seria justo destacar sua verve de ficcionista obcecado – passando por títulos como Boca do inferno e O braço direito, que só mais recentemente receberam o devido reconhecimento –, sua pena fina de jornalista, sempre na justa medida da linguagem clara e precisa, e sua devoção à epistolografia – Otto foi um missivista tão dedicado que até virou selo dos Correios em 1994. Não por menos, o volume de sua correspondência é comparável somente à de Mário de Andrade. Incapazes de dar conta de tudo isso, escolhemos três historinhas de amigos...
14 abr 2022

A morada do cronista

Guilherme Tauil
Há escritores que fazem livros como casas. Erguem uma obra monumental, capaz de se sustentar por força própria, e fica. O cronista de jornal, porém, é “como o cigano que toda noite arma sua tenda e pela manhã a desmancha, e vai”. As palavras são de Rubem Braga, um de nossos mais notórios ciganos, que fez e desfez sua tenda na imprensa durante quase toda a vida. A crônica, como se sabe, nasceu do encontro entre o jornalismo e a literatura. Na definição graciosa de Manuel António Pina, poeta e cronista português, trata-se de “jornalismo com saudades da literatura e literatura com remorsos de ser jornalismo”. Sua origem nos remete ao rés-do-chão do jornal, bem no rodapé da página, num espaço que os franceses tratavam de...
31 mar 2022

As bicadas do sabiá

Guilherme Tauil
Que Rubem Braga foi um de nossos mais líricos cronistas, todo mundo sabe. Com aparente simplicidade, era capaz de revelar beleza em gestos que nossa vista fatigada deixa escapar. O que nem todos se lembram é que, ao mesmo tempo em que falava de infância, amores e amigos, o sabiá da crônica bicava autoridades e sobrevoava problemas sociais, em tom de denúncia. Na verdade, para ele, poesia e justiça comunitária não são contradições – o interesse pelas coisas singelas da vida, o sentimento de irmandade com os pobres e a indignação com a miséria vêm da mesmíssima raiz de humildade. É uma maneira de ver e de estar diante do mundo. Homem de esquerda, foi um crítico feroz de Getúlio Vargas e sofreu com a perseguição do Estado...
15 mar 2022

Mistérios da poesia

Guilherme Tauil
Desapontada, a moça se queixou com o amigo Rubem Braga. Ela tinha conhecido um poeta, chegado do cronista, que nada tinha de poético no convívio. Reclamou que “no tempo em que esteve em sua mesa, não lhe ouviu uma palavra sobre poesia” – pelo contrário. O poeta só falou de sapato, carro e futebol. Nada mais desestimulante para quem esperava ouvir sobre a grande obra de Shakespeare. “Nunca falam os poetas de poesia?”, quis saber. “Bem, eles falam”, respondeu Braga, também ele um poeta, ainda que bissexto. “Mas acontece que, além de ser um homem como os outros, e sem deixar de sê-lo, ele tem isso de grave e especial que é ser um homem a quem tudo concerne e de tudo tira seu mel e seu fel.” Tudo é matéria do poeta...
28 fev 2022

Confetes para Paulo Mendes Campos

Guilherme Tauil
Eis que Paulo Mendes Campos se torna centenário. O cronista, tradutor e poeta, sobretudo poeta, chegou ao mundo via Minas Gerais, em 28 de fevereiro, numa terça-feira de Carnaval. Sua crônica, inconteste, é merecedora de grandes celebrações. Mas, não sendo possível dedicar mais do que alguns parágrafos ao aniversariante, fica acertado que esta comemoração é apenas um breve sobrevoo em torno de sua prosa – ou melhor, de seus poemas em prosa. Afinal, Paulo Mendes Campos é o mais poeta dos cronistas. Às vezes, chega até a subverter a pontuação para alcançar certas imagens líricas, quase como se escrevesse em versos. É claro que, depois da sinfonia barulhenta do modernismo, todo cronista pôde se valer dessa saborosa dissolução...
15 fev 2022

O encanto de Minas

Guilherme Tauil
Oh, Minas Gerais! Quem te conhece não esquece jamais, diz a canção adotada como hino informal do estado. “Conhecer”, neste caso, certamente significa “visitar”. Mas, se pensarmos na outra acepção do verbo, a de “compreender”, é capaz de reacendermos uma discussão antiga que sempre aparece em nossas letras. De tempos em tempos, alguém se lembra de perguntar o que seria o tal espírito mineiro, esse charme peculiar de uma unidade federativa que não compete às outras 26, e a conversa vai longe, geralmente acompanhada de versos de Drummond, generosas talhadas de queijo e causos bem-humorados. Em 1992, Otto Lara Resende, natural de São João del-Rei, escreveu um artigo sobre a questão, perguntando-se: Mineiridade existe? Ou...
31 jan 2022

Um prazer enfumaçado

Guilherme Tauil
Dentre as Coisas deleitáveis que Paulo Mendes Campos enumerou, além de “arrancar os sapatos depois do baile” e “foto em que a gente fica mais bonito do que é”, está um “cigarro depois do café da manhã, sobretudo de manhã fria, no interior”. O leitor que fuma há de concordar com o cronista. O que não for chegado, bem, esteja avisado de que, hoje, é melhor tapar o nariz e tomar alguma distância para evitar a fumaceira – mas não a ponto de perder de vista essas preciosas crônicas sobre o hábito de fumar. Sem pedir licença aos antitabagistas, Otto Lara Resende fez o elogio da última tragada em A guimba e o reflexo – aquela que “desce pela árvore brônquica e, perfumada, se infiltra pelas vísceras e acelera o ritmo...
14 jan 2022

O coração dos moços

Guilherme Tauil
Foi na festa de casamento de Di Cavalcanti que Rubem Braga conheceu aquela jovem. “Uma alta e bela moça”, com 20 anos de idade, que pintava autorretratos desde os 14. Por acaso, alguns desses pequenos quadros a óleo estavam no salão e Braga, ao observá-los, foi fisgado pela implacável consciência do tempo. Movido pelo “jogo delicado entre o olhar que vê e o olhar contemplado”, o cronista se pergunta se, assim como a face reproduzida foi se alterando ao longo dos anos, também já não seria outro o modo de ver daquela menina, a “maneira de sentir a si mesma”. Com quase 40, Braga, que se tratava por velho desde moço, desata a projetar nas telas tudo o que ainda aguardava a jovem pintora: pensa nos reflexos “que as luzes...
30 dez 2021

A última crônica

Humberto Werneck
Você abre seu jornal, sua revista, no impresso ou no digital – e dá de cara com a surpresa ruim: cadê o meu, cadê a minha cronista do coração? Aconteceu o que se dá com qualquer escriba. Um dia, some, seja por fastio, literário ou não, seja por haver batido asas para além da imprensa, batido asas deste mundo. Nunca mais, no gênero ao menos, uma palavra daquele ou daquela de quem você, sem se dar conta, acabou docemente dependente. O consolo é saber que a criatura não se foi sem nos deixar uma “última crônica”. Ou até mais de uma, no caso talvez sem similar de Lima Barreto. Quando ele morreu, em 3 de novembro de 1922, sua “última crônica” parecia ser Novos ministérios, estampada três semanas antes na Careta...
15 dez 2021

Tesouros de um bibliodisplicente

Humberto Werneck
Difícil imaginar um escritor, mesmo um daqueles capazes de se interessar por algo além do próprio umbigo, que não guarde o que publica na imprensa. O pernambucano Antônio Maria Araújo de Moraes, cujo centenário de nascimento se comemorou neste ano de 2021, foi quanto a isso uma exceção radical. Quando um infarto o apagou, aos 43, ele não só não tinha livro publicado como não deixou recortes das milhares de crônicas que espalhou numa fartura de revistas e jornais. O homem que se rotulava “cardisplicente” foi também um bibliodisplicente.  Sabe disso melhor do que ninguém o jovem cronista e pesquisador Guilherme Tauil, que, uma vez apresentado à literatura fina do Maria, até recentemente disponível em cinco coletâneas magras...
30 nov 2021

Amor à prova d’água & outros drinques

Humberto Werneck
Às voltas com uma crônica que precisa escrever, mas que reluta em descer ao papel, Rubem Braga caminha à noite sob a chuva, e, antes de buscar abrigo no café da esquina, repara no casal que namora na calçada, indiferente ao aguaceiro. A crônica, que dali a pouco finalmente vai brotar, será devedora dos amantes empapados de ternura e chuva, mas de outro par também – as duas bagaceiras que o cronista sorveu para melhor saborear aquele amor à prova d’água.  Já em Uma conversa de bar, o Braga é mais que simples observador. Lá está com a moça, os dois envoltos numa penumbra que é também da alma, pois sobre eles paira uma certeza não enunciada, porém dura, mais que isso, inapelável. Tão penosa que, à falta de palavras, ele...
16 nov 2021

Quando se pula a cerca

Humberto Werneck
Na boca do povo, trata-se de uma atitude da qual um dos efeitos colaterais é o implante, na testa do cônjuge, de um par de pontiagudos e abaulados cones feitos de substância córnea. Cabe numa só e áspera palavra – adultério –, e até tempos recentes (2005) era crime previsto no Código Penal. Sua comprovação demandava um “flagrante de adultério”, procedimento não apenas de mau gosto como, não raro, de consequências mais devastadoras que a traição em si. O consolo é ter servido de inspiração para alguns de nossos melhores cronistas. “A lei exige uma prova que em si mesma é mais escandalosa e quase sempre mais maléfica do que o crime”, protestou Rubem Braga seis décadas atrás. Sarcástico, propôs que o próprio...
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