Fonte: Toda crônica. Apresentação e notas de Beatriz Resende; organização de Rachel Valença. Rio de Janeiro, Agir, 2004, vol. II, p.517. Publicada, originalmente, na revista Careta, de 8/04/1922 e, posteriormente, no livro Coisas do reino de Jambon. Brasiliense, 1956, p.73.
Mostram-se os jornalistas alarmados pela recrudescência de crimes praticados por mulheres sobre homens indefesos. É caso de assim dizer. Atribuem a isso e aquilo; explicam o fato com toda a sutileza; mas esquecem o feminismo reinante.
É natural que a mulher, querendo ser votante e votada, seja também candidata ao assassinato, tanto mais que esse negócio de eleição não passa sem homicídio.
Não há político, aqui ou em caixa-prego, que dispense um ou mais assassinatos nas costas. Quando ele não mata, manda matar. É um fato.
Quem se mete em política é como quem vai para uma batalha: arma-se, disposto a matar ou morrer. As nossas eleições e lutas políticas são verdadeiros combates. Querendo a mulher ser político, deve saber matar com revólver, com faca ou outra arma qualquer.
De resto, não é justo que a mulher só queira entrar para o Museu Nacional e não aspire também à Casa de Correção, por crime de morte. Ela está mostrando que é capaz de uma e de outra cousa. Ainda bem que os antifeministas são assim derrotados!
Não é possível que ela só tenha as vantagens dos homens, equiparando-se a eles; devem ter também os ônus da vida masculina e um deles é a cadeia, por homicídio.
Eu, que sou antifeminista, à vista do que está acontecendo, me julgo completamente satisfeito. A mulher tem as mesmas capacidades que o homem e pode exercer todas as funções que ele exerce, inclusive a de assassínio.
Não sei o que, a respeito, pensará a Liga pela Emancipação da Mulher (leiam Berta Lutz), a Legião da Mulher Brasileira, dona Deolinda Daltro e Mme. Chrysantème; mas acredito que elas estejam contentíssimas, porquanto encontrarão nesses sucessivos e sensacionais assassinatos, praticados por mulheres, mais um forte argumento em favor de sua tese de equiparação dos sexos, na nossa sociedade. O crime não deixa afinal de ser um fato social; e talvez seja, no fim de contas, útil à existência das agremiações humanas, dando origem a muitas instituições delas, destinadas à repressão dele e tornando objeto das meditações dos moralistas, dos sociólogos, e exaltando os místicos e temperamentos religiosos, na cogitação de sua extinção. Passemos além.
No final de contas, a entrada da mulher na atividade do crime não é mais do que uma manifestação de progresso do feminismo. Em New York, este se mostrou, porque não tinha mais por onde se mostrar, com o cigarro na boca das senhoras, em plena rua; aqui, ele se vai mostrando com o trabalho, empenhado por distintas damas, e com nomeações ilegais de moças para as repartições públicas.
Cada povo tem o seu gênio peculiar — é da Bíblia.