– Não sei por quê aquele diabo de gatuno cismou em me furtar.
– A ti?
– Sim; a mim.
– Como foi isto?
– Conto-te. Eu morava num quarto pobre, na Rua de São Pedro. Era uma espécie de sepultura, e eu só ia lá para dormir. Mais da metade do dia, passava eu na rua a perambular. Certa noite, recolhi-me mais cedo e deitei-me no meu catre com muito sono. Aí pelas tantas, despertei e vi que tinha um companheiro no quarto. Quem seria? Não tive dúvidas! Agarrei um enorme “Nagant” que não sei onde arranjara e ameacei o intruso.
– Ele resistiu?
– Não. Rendeu-se logo, prendi-o e acompanhei-o para entregá-lo à polícia.
– Para quê?
– Ouve. Saímos e, no caminho, pus-me a conversar com o rapaz. Gostei dele. Ao passar por um café, ele me convidou para entrar e tomar alguma cousa. Aceitei. Dentro em pouco, eu me esquecia que tinha diante de mim um sujeito que me queria roubar. Quando nos despedimos, ele me perguntou: “Estás sem dinheiro?”. Respondi-lhe: “Estou”. Sabes o que ele fez?
– Não.
– Passou-me uma prata de dois mil-réis.