Fonte: Toda crônica. Apresentação e notas de Beatriz Resende; organização de Rachel Valença. Rio de Janeiro, Agir, 2004, vol. II, p.183. Publicada, originalmente, na revista Careta, de 22/05/1920 e, posteriormente, no livro Coisas do reino de Jambon, Brasiliense, 1956, p.129.
No restaurant ou bar Assírio, diversas frequentadoras daquelas paragens, segundo os jornais e por motivos que não vem a pelo reproduzir aqui, se engalfinharam num pugilato, a altas horas da noite.
Em matéria de combates entre mulheres nós pouco sabemos de positivo. A história não guarda memória de nenhuma delas, ao que eu saiba; e a única tribo guerreira de damas — assim mesmo não é da história, é da lenda, — de que se tem notícia é das amazonas.
Essas, porém, não se batiam entre si, mas contra os homens unicamente. As damas do elegante porão do Municipal, porém, não procedem assim. Deixam de parte os marmanjos e se engalfinham entre elas.
Não posso deixar de aprovar-lhes o procedimento, porque vai nisso um verdadeiro progresso. Se elas ficassem no papel de amazonas da mitologia, que seria delas, do champagne e das sedas? Ia tudo por água abaixo e a indústria vinhateira ou semelhante de vários países muito sofreria, assim como a do bicho-da-seda.
Procedendo como procederam, naturalmente quebraram-se algumas garrafas do precioso vinho espumante, estragaram-se muitos vestidos de seda. Daí vem um lucro para os mercadores de vinho e para os comerciantes de fazendas.
Dirão: se fosse à moda das amazonas, acontecia o mesmo. Não há tal. Aquelas respeitáveis senhoras combatiam com armaduras, capacetes e outras peças de uniforme inenarrável. O que não acontece com as combatentes atuais, que vão para a liça em traje de passeio.
Dou parabéns àquela dependência do Municipal, por ter podido presenciar mais esse progresso moderno nos costumes femininos.
Não foi à toa que ele, o teatro que devia regenerar a nossa literatura dramática, custou tão caro...