Fonte: Toda crônica. Apresentação e notas de Beatriz Resende; organização de Rachel Valença. Rio de Janeiro, Agir, 2004, vol. II. p.513. Publicada, originalmente, na revista Careta, de 25/03/1922 e, posteriormente, no livro Coisas do reino de Jambon, Brasiliense, 1956, p.92.
A nossa excepcional Diretoria de Saúde Pública fundou uma Escola de Enfermeiras e vai em breve inaugurá-la no antigo edifício do Asilo de Mendigos. A Escola Profissional de Enfermeiras vai ser dirigida por senhora muito competente, segundo diz um jornal, de origem americana, e terá professoras quase todas americanas.
As alunas serão internas e receberão a mensalidade de setenta e cinco mil-réis. Nós vamos ver como vão correr à matrícula moças e mocetonas. As vantagens são muitas; e, demais, uma escola up-to-date, dirigida por americanas comme il faut, é de tentar. Se vestisse saias e estivesse na idade, logo acudia à benemérita instituição, para pôr meu nome no respectivo livro e apresentar meus títulos. De resto, que curso supimpa! Ele é de dous anos e quatro meses. Não acham que essa fração de quatro meses é demonstração da proficiência com que a escola foi organizada? Antigamente nós dividíamos os nossos cursos em anos inteiros que, em geral, eram de menos de seis meses; vieram as americanas, porém, e acharam que era de boa sabença esse contrapeso de quatro meses.
Deve ser de grande utilidade a medida e, talvez, seja uma descoberta de Edison.
É verdade que o programa fala em primeiro e segundo ano; mas, como os nossos anos letivos são de menos de seis meses, os dos americanos — povo empreendedor e ativo — devem ser de quatorze.
Demais, eles contêm cousas complicadas: história e ética da enfermagem (que discursos não dá!), noções de microbiologia, de matéria médica, de física, de química, nutrição e cozinha (bem achado!), etc., etc. Falta ainda alguma cousa, como: botânica, zoologia, astronomia, meteorologia, oceanografia e uma cadeira sobre o rádium e suas aplicações na medicina, sem esquecer algumas mais.
Desejo muito a prosperidade da escola — o que certamente vai acontecer. Se tal acontecer, — o que tudo faz esperar, vamos ver mais um quadro acadêmico nas vitrinas da Rua do Ouvidor, o das “enfermeirandas” e mais um anel simbólico nos dedos das moças — o delas.
Será tudo isto um benefício para a Saúde Pública. Ainda bem.