Fonte: Toda crônica. Apresentação e notas de Beatriz Resende; organização de Rachel Valença. Rio de Janeiro, Agir, 2004, vol. I, p.121. Publicada, originalmente, no Correio da Noite, de 18/12/1914 e, posteriormente, no livro Vida urbana, Brasiliense, 1956, p.59.
Os nossos financeiros do Congresso, ou fora dele, são deveras interessantes. Tateiam, hesitam, andam às apalpadelas, nos casos que mais precisam de decisão.
Resolveram eles, para salvar a Pátria, que anda a níqueis, que os empregados públicos fossem tributados de maneira mais ou menos forte.
Nada mais justo. Como já tive ocasião de dizer, é razoável que a Pátria “pronta” “morda” os seus filhos “prontos”; e eu, que estou em causa, não protesto absolutamente.
Estou cordialmente disposto a contribuir com os meus “caraminguáus” para a salvação do país mais rico do mundo.
Agora, uma coisa, caros senhores legisladores: quanto tenho de pagar?
Uma hora dizem: dez por cento. Faço os meus cálculos e digo de mim para mim: suporto.
E voto por que nos cortem certas despesas suntuárias, como o governo anda a cortar a dos automóveis.
Vem, porém, um outro “salvador” e diz: você, “seu” Barreto, vai pagar unicamente cinco por cento.
Tomo a respiração, vou para casa e abençoo o Congresso: homens sérios! Viram bem que dez por cento era muita coisa!
Não confesso a minha alegria à mulher e aos filhos, porque os não tenho, mas canto a satisfação pelas ruas, embora os transeuntes me tomem por louco.
Ainda bem não dou largas à minha alegria, quando chega um outro e propõe: você deve ser descontado em doze por cento.
Ora bolas! Isto também é demais! Então eu sou o holandês que paga o mal que não fez?
Não é possível que os senhores legisladores pensem que posso assim ser esfolado, sem mais nem menos, e os meus vencimentos estejam assim dispostos a serem diminuídos, conforme a fantasia de cada um.
Entro na subscrição para manter o Ministério da Agricultura, mas de conformidade com as minhas posses. Notem bem.
Se ele precisa de tanto dinheiro, nada mais razoável do que apelar para o visconde de Morais, o Gaffrée ou mesmo para o Rocha Alazão, que em tais coisas de “facadas” é mestre consumado, respeitado e admirado por todos, porquanto – confessemos aqui entre amigos – quem não deu a sua “facadinha"?