Assim que Irene soube que a sua amiga Inês se havia casado, imaginou logo que o tivesse feito com um grande poeta, uma jovem notabilidade.
Irene estava em Paris há muitos anos e raramente se correspondia com sua amiga, de forma que não podia fazer um juízo certo de quem fosse o marido de Inês.
Entretanto, sabia aquela das ideias de casamento de sua antiga colega.
No colégio em que ambas cursaram, quando tratavam desse assunto palpitante para o coração das moças – o casamento – era hábito de Inês dizer à amiga:
– Eu me hei de casar com um grande poeta.
Ao que a amiga respondia:
– Esta gente não serve para marido; são estroinas, volúveis...
– Qual! Nem todos... E mesmo que assim seja, eu quero que o meu nome corra mundo junto ao nome do meu marido...
Moça feita, Inês sempre se interessou por essas coisas de letras e seguia todos os poetas que surgiam, com vagar, ardor e uma ingênua admiração.
Conferência deste ou daquele não era anunciada que lá não estivesse; aos salões da literatura elegante e decorativa, estava sempre presente.
Muitos esperaram dela uma literata e houve um ironista que a crismou mesmo de próxima futura poetisa ou... romancista.
Tudo isto fez ver à sua amiga Irene que ela se houvesse casado com um jovem poeta de grande talento.
Aconteceu que o marido desta última, com medo dos azares da guerra, deixasse a sua residência em Paris e viesse para o Rio.
Logo que as duas se avistaram, Irene imediatamente perguntou pressurosa:
– Já vi que o teu marido é um grande poeta.
– Não; é campeão do football.