Fonte: Febeapá, Companhia das Letras, 2015, p. 290.

A Guanabara anda tão confusa que começaram a acontecer as coisas mais esquisitas dos últimos tempos. Deve ser o calor, o sofrimento de um cinema sem refrigeração, a falta de elevadores, a falta de água, a dificuldade de transportes, e a falta de dinheiro do povo e de vergonha do governo. Com tudo isso, o cidadão vai tendo tanta coisa para pensar, mas tanta coisa, que um dia quando ele menos espera, dá um estouro e pronto. Mufa queimada. Carteirinha de doido e caco de miolo pra tudo que é lado.

E não é que tinha um amontoado outro dia na avenida Salvador de Sá? Foram conferir e tava lá. Mais um com a mufa queimada. O motorista João Claudino da Silva, durante uma das noites mais quentes da Guanabara, teve um acesso de loucura (ou de calor) e, inteiramente nu, foi dormir tranquilamente entre os galhos de uma das árvores daquela via pública. E deu o maior galho. O sr. João Claudino, depois de tirar a roupa e subir na árvore, deitou nu e de barriga pra cima numa forquilha e ficou roncando até 11 horas da manhã. Mais ou menos a essa hora um — com licença da palavra — pedestre olhou e viu lá em cima a parte de baixo do Claudino. A noite era de lua cheia, mas o dia não. E tome de juntar gente. Foi aí que um gaiato gritou, depois de olhar atentamente para o acontecimento:

— É fruta-pão. Um entendido em botânica logo contestou: — Que fruta-pão o quê, sô! É jaca.

Teve nego até que disse que era uva. Outro disse que era melancia. Tava uma discussão dos diabos. E aí chegou o Corpo de Bombeiros. Um bombeiro meio desconfiado perguntou ao tenente:

— Oitizeiro dá melancia?

— Eu nunca vi! Mas, na atual conjuntura é bem possível. Acho melhor você subir na árvore e dar uma olhada.

Quando o bombeiro se preparava para subir, ainda teve um cara que pediu:

— O meu... se for jaca, minha mulher tá com desejo de comer jaca. Tá com desejo, entende...

O bombeiro subiu na árvore. Deu uma olhadinha e gritou: — Seja lá que fruta for, tá madura e vai cair.

Dito e feito. Primeiro passou o vento e depois a fruta. Era o Claudino. Devidamente descascado, foi enviado para o hospital psiquiátrico. Agora, leva mais uns três meses para amadurar novamente.

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