Fonte: Todas as crônicas: Aquarelas e outras crônicas (1859-1878). Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 2021, vol. 1, pp. 274-275. Publicada, originalmente, no Diário do Rio de Janeiro, de 7/02/ 1865.
Já me aconteceu ouvir, a poucas horas de intervalo e a poucas braças de distância, duas respostas contrárias a esta mesma pergunta:
— Que é a mulher?
Um respondeu que a mulher era a melhor coisa do mundo; outro que era a pior.
O primeiro amava e era amado; o segundo amava, mas não o era. Cada um apreciava no ponto de vista do sentimento pessoal.
Entre as duas definições eu prefiro uma terceira, a de La-Bruyère:
— As mulheres não têm meio-termo: são melhores ou piores que os homens.
Mas não é neste ponto de vista que eu venho hoje falar das damas. Deixemos em paz os amantes e os moralistas. Não entrais hoje neste folhetim, minhas senhoras, como Julietas ou Desdêmonas; entrais como espartanas, como Filipas de Vilhena, como irmãs de caridade.
A bem dizer é uma reparação. Já falei dos voluntários; já consagrei algumas palavras de homenagem aos corações patrióticos que, na hora do perigo se esqueceram de tudo, para correr em defesa da pátria. Mas, nada escrevi a respeito das damas, e quero hoje reparar a falta, começando por aí e dedicando às damas estas humildes colunas.
Não nascestes para a guerra, isto é, para a guerra da pólvora e da espingarda. Nascestes para outra guerra, em que a mais inábil e menos valente vale por dois Aquiles. Mas, nos momentos supremos da pátria, não sois das últimas. De qualquer modo ajudais os homens. Uma, como a mãe espartana, arma o filho e o manda para a batalha; outras bordam uma bandeira e a entregam aos soldados; outras costuram as fardas dos valentes; outras dilaceram as próprias saias para encher os cartuchos; outras preparam os fios para os hospitais; outras juncam de flores o caminho dos bravos.
Voltará aquele filho antes da desafronta da pátria? Deixarão os soldados que lhes arranquem aquela bandeira? Entregarão as fardas que os vestem? Sentirão os ferimentos quando aqueles fios os hão de curar?
Ao par da santa ideia da pátria agravada, vai na imaginação dos heróis a ideia santa da dedicação feminina, das flores que os aguardam, das orações que os recomendam de longe. É assim que ajudais a fazer a guerra. Deste modo estais acima daquelas aborrecidas Amazonas, que, a pretexto de emancipar o sexo, violavam as leis da natureza, e mutilavam os divinos presentes do céu.
Com quem amor brincava e não se via.
Não tendes uma espada, tendes uma agulha; não comandais um regimento, formais as coragens; não fazeis um assalto, fazeis uma oração; não distribuis medalhas, espalhais flores, e estas, podeis estar certas, hão de lembrar, mesmo quando forem secas, os feitos passados e as vitórias do país.
Que nenhuma brasileira se recuse para esta batalha pacífica. De qualquer modo pode servir-se à pátria, provam-no alguns exemplos já conhecidos. Acudam as outras, reclamam as primeiras. E nisto haverá, não só uma dedicação generosa, mas um dever sagrado; é desforrar por um zelo unânime a falta de se ter cedido o passo às damas argentinas, a quem, aliás, devemos votar todos e todas uma eterna gratidão.