Fonte: Toda crônica.  Apresentação e notas de Beatriz Resende; organização de Rachel Valença, Agir, 2004, vol. II, p.578. Publicada, originalmente, na Careta, de 5/01/1924.

Este caso de candidaturas que quase empolgou a opinião pública acabou comicamente num desfecho de malandragem que tudo fazia esperar. Quem conhece os personagens que nele andaram metidos bem sabia que tal coisa havia de acontecer. Não os movia nada de sério, nem qualquer ideal alimentava a campanha deles.

O que eles queriam, ou que eles querem, são os proventos que os altos cargos dão e, sobretudo, as vantagens que eles trazem à margem.

Seja, Bernardes, seja Vertenza, associados quaisquer deles a “filadelfos” de toda a ordem, o certo é que nenhum deles quer o bem público, nem mesmo o dos seus asseclas.

O escopo deles é arranjarem-se e mais as famílias.

A tal história de “reação republicana” começou com tal ímpeto que parecia ser mesmo um movimento de opinião, dirigido com sinceridade por homens de valor e responsabilidade, contra politiqueiros obscuros, cuja única noção de política fosse aquela que se adquire nas lutas eleitorais da roça, onde predominam o assassinato, a compressão e a fraude.

Entretanto, assim não foi. No momento agudo, quando todos esperavam que tais homens levassem a luta até ao último, todos eles, sob este ou aquele pretexto, fugiram dela, deixando os seus adeptos “a ver navios”

Ora, bolas! Chefes que tais não merecem confiança. É consagrado que o comandante do navio, em caso de naufrágio, seja o último a deixar o barco; entretanto os comandan¬tes da barcaça da dissidência não fizeram isso. Foram os primeiros a fugir.

Onde está o combate? Onde está a luta?

Está aí em que consiste a política do Brasil; Bernardes briga com Vertenza, soltam ambos belas palavras, pelos seus jornais e pelos seus oradores, os bobos tomam partido, levam chanfalhadas da polícia, vão para o xadrez e... os chefes embarcam para a Europa. Viva a política!

lima-barreto