Não sou especialista em gato. Andei escrevendo sobre o Zano porque sumiu. Pensando bem, deve ter sumido de vergonha. Pediu asilo numa embaixada ou se mandou para o exterior. Não tem 200 mil brasileiros no Japão? De sangue japonês, mas brasileiros. E por aí tudo tem hoje brasileiro. O “Brasil Novo” está cheirando mal. Quem pode dá no pé. Agora uma leitora me diz que o Zano ainda vai voltar. Veremos. E me pergunta se gato sonha.
Bom, o Zano sonha, garante o pessoal aqui de casa. Ou sonhava. Por falar em sonho, outro dia falei de uma dúvida que provocou uma discussão. Cego sonha? Se sonha, sonha em cores? Citei Borges e Shakespeare, Milton e Homero, mas não soube responder. Quem me tirou as escamas dos olhos foi o dr. Carlos de Barros Laraia, oftalmologista de Pouso Alegre, MG. Está aqui a revista que ele me mandou, com um artigo sobre os sonhos invisíveis dos que não enxergam.
Uns mais, outros menos, todos sonhamos. Uns, com riqueza de detalhes e até cores. Outros, por alto. Este sonha toda noite, aquele nem tanto. Há fases oníricas, como há fases em que o sujeito dorme que nem uma pedra. Como o sono, o sonho vem sendo muito estudado. Todo mundo conhece hoje de ouvido o Freud e o Jung. Um sonho pode ser um bom palpite para o bicho, como pode desatar um enredo complicado. De amor ou de crime. É uma chave, o sonho.
Quando são de nascença ou se perderam a visão muito cedo, os cegos sonham sem imagens visuais. Seus sonhos têm sons, como podem ter sensações de olfato e de tato. Também de movimento. Se a cegueira vem entre os cinco e os sete anos de idade, o sonho guarda fiapos de imagens. Aos poucos, desaparecem formas e cores. Ou seja, o cego sonha às cegas. Nem por isto uns tantos cegos deixam de sonhar com cores. E são até capazes de descrevê-las.
Como qualquer pessoa, o cego sonha no quadro de seu cotidiano. A relação entre o sonho e a realidade é fatal. Se vive num espaço restrito, sonha o cego com amplos espaços abertos. Objetos pequenos, fáceis de pegar, são os que lhe aparecem com mais frequência. Um traço curioso: os cegos sonham com mais lógica do que quem enxerga. Despojado, o sonho tende neles a se concentrar no próprio corpo. Em suma, todo mundo sonha, cego inclusive. Cá entre nós, quem no Brasil hoje vive sem sonhar?