O Marcílio pôs à venda o apartamento em que vive. As filhas não moram mais com ele. Quer se mudar para um apartamento menor. Dizem que o mercado imobiliário não anda lá essas coisas. Não sei se está na hora de comprar ou de vender. Ou se está na hora de ficar quieto. O apartamento está à venda há um ano. Ipanema, bairro nobre. Ponto excelente, para quem gosta. O ministro vai para a Barão de Jaguaripe, no mesmo bairro.

Em princípio, ninguém quer mudar de bairro, ou de carro. Ou do que for. Todo mundo tem um lado meio conservador. Mas todo mundo troca de tudo. Hoje em dia, só é excêntrico não trocar de mulher. Pois até nisso o Marcílio se mantém impermeável aos modismos. Convenhamos que um ano sem vender o apartamento é um bom sinal. Ministro costuma ter amigos dispostos a lhe comprar o que puser à venda. No caso, é um apartamento com “cachê”. Com valor intrínseco.

Mas quem sabe das coisas é a dona Noêmia, mãe do Marcílio. O repórter lhe perguntou por que até agora o apartamento não foi vendido. Simples: porque hoje ninguém tem dinheiro pra comprar, disse ela. Resposta mais clara, impossível. Aliás, a dona Noêmia pelo Natal andou conversando com os repórteres e disse coisas do maior bom senso. Fiquei seu fã. Recomendou que não se gastasse demais com as compras. A vida está difícil. Já em 1992, tudo deve melhorar, porque o Marcílio está trabalhando. Em 1991, até o quindim da dona Noêmia, sobremesa favorita do seu filho, estava o seu tanto amargo.

Como boa mãe, e mãe experiente, 94 anos, dona Noêmia acredita que só o trabalho não basta. É preciso um pouco de sorte. Então ela conta que em 1920, a família teve um Natal gordo. O pai dela ganhou na loteria uma fortuna. Ganhou com o bilhete 15.669. Fica aqui o palpite. Até hoje a dona Noêmia faz a sua fezinha. Joga na Sena, na Loto e no bicho. Minha mãe também gostava de um joguinho. Morreu o ano passado, 91 anos. Uma vez ganhou um primeiro prêmio com o bilhete 52.250. Boas mães têm muita sorte.

Acho simpáticas essas vindas do Marcílio ao Rio. Agora, estou convencido de que são fundamentais. Ele areja o espírito, anda pela rua, toma água de coco e conversa com a dona Noêmia. Fala pela boca materna a própria sabedoria. É uma visão humana e verdadeira da realidade. Nada tecnológica. A mãe do ministro tem razão. Vamos trabalhar, mas vamos também confiar na sorte. Fé e fezinha, somadas, dão esperança.