RIO DE JANEIRO – Na França, o casamento virou negócio. Hoje, o  mariage blanc tem por lá outro sentido. Um monte de estrangeiros se casa pra conseguir os papéis que lhes permitam viver legalmente na França. Esse expediente há anos foi usado nos países da Europa do Leste, mas logo as autoridades puseram fim à maracutaia com a mão de ferro da ditadura. O noivo ou a noiva, que casava para fugir do paraíso socialista, podia até ser passado pelas armas. Ia direto para o outro paraíso.

Como há hoje um milhão e 250 mil brasileiros vivendo no exterior, não me admiro se souber que também estão procurando se casar para conseguir a green card ou o pérmis de séjour. A gente nunca pensava que um dia iria exportar brasileiros em penca. O pior é que há muitos centros do mundo que se abastecem aqui de travestis e prostitutas. A tanto chegamos, valha-me Nossa Senhora Aparecida!

Fui recentemente a três casamentos e concluí que casar está de novo na moda. Na igreja e na recepção tudo comme il faut. Noivos de semi-fraque ou peço-a-palavra. Também eu, há muito tempo, me casei assim. Só que a roupa era do Millôr. Sim, do Millôr Fernandes. Naquele tempo ele já tinha a mania de ser atleta, mas o traje me caiu bem. Em mim e no Yllen Kerr. Vários amigos casamos com essa indumentária do Millôr. Convém pedi-la emprestada, porque parece que dá sorte, até onde casamento dá sorte, porque não é máquina de felicidade.

Não só o traje, mas depois o casamento também saiu de moda. Até a liturgia católica mudou. O latim foi arquivado. Como o latim, também os requififes que tornavam a cerimônia meio pesada. Veio a moda dos casamentos temporários, ou rotativos. Uma filha passou a dar uma safra de vários genros. Todos sazonais. O jardim do divórcio e da separação bagunçou a árvore genealógica da família brasileira.

Hoje o verso de Manuel Bandeira é realista: “Joana, a Louca de Espanha, rainha e falsa demente, vem a ser contraparente da nora que eu nunca tive”. Nos três casamentos a que eu fui ouvi três sermões. Gostei. Conversei depois com um padre sobre a importância do rito. Até no civil o papel passado não é só patrimonial. É matrimonial também. E tudo está de novo meio solene. A noiva não abre mão do vestido de cauda. E o noivo faz questão da etiqueta, que afinal é uma pequena ética.

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