Saiu outro dia nos jornais do Rio um texto que dá notícia de que a praça da Liberdade foi restaurada. É o símbolo de Belo Horizonte, como está no título. Será? Difícil dizer que rua ou que praça é o símbolo de uma cidade. É fora de dúvida que a praça da Liberdade tem importância para Belo Horizonte. Lá estão dois palácios, o do governador e o do arcebispo. Mas a praça está cheia mesmo é de reminiscências e de lembranças de várias gerações.

Do meu tempo de Belo Horizonte para cá, a praça passou por uma transformação radical. Posso dizer até que desapareceu. Mais ou menos como aconteceu com todas as cidades brasileiras, Belo Horizonte foi assaltada por um processo cancerígeno. Para vocês terem uma ideia do que era a cidade nos anos 40, a coisa mais natural do mundo era chamá-la de Cidade Jardim. Ninguém estranhava. E era mesmo.

Pois bem. A praça da Liberdade virou um mafuá. Um mercado persa piorado. No domingo, a praça era assim como a feira de São Cristóvão no Rio. Com boa vontade, talvez lembrasse a praça General Osório em Ipanema, com os seus artesãos e artistas. Cheguei a sugerir que a capital de Minas se mudasse para Santa Luzia, que está hoje na Grande Belo Horizonte. A velha Santa Luzia, à margem do rio das Velhas, lembra a Revolução Liberal de 1842. Faz 150 anos neste 1992.

Agora restauraram a praça, depois de uma pesquisa que remontou à sua origem. Descobriram que os jardins originais eram de estilo inglês. Só depois passaram a ser Versailles, como está no poeta. Foi quando o rei Alberto visitou Belo Horizonte em 1920. Era belga, mas falava francês. Aí o jardim virou francês. Agora tudo está de novo como no tempo do “Noturno de Belo Horizonte” de Mário de Andrade. Os bancos, as árvores. Até a fonte luminosa de três cores alternadas.

Quase abri um livro com fotos da cidade e da praça. Mas não preciso de livro nenhum. É só olhar para dentro de mim mesmo e revejo a praça como existia. O seu ingênuo footing. Quem sabe hoje o que é? A certa altura a reportagem deixa escapar este suspiro: “Quantos romances começaram ali”! Sim, começaram e foram adiante. Deram netos e avós. Mas há também os que ali começaram e acabaram ali. Isto ninguém restaura. Nem é preciso. Há lá um soluço que resiste ao tempo. Ou talvez apenas um suspiro de nostalgia que vem de longe e passa.

otto-lara-resende
x
- +