RIO DE JANEIRO — Deixei de propósito passar o dia 1⁰ ontem para só hoje mencionar a velha parêmia "agosto, mês do desgosto". Digamos que é culpa da rima, como é o caso em tantos provérbios da sabedoria popular. Mas agosto tem má fama também fora da língua portuguesa, onde a rima, se existe, não é tão evidente. Digamos que seja só superstição. Quem não é ao menos um pouquinho supersticioso? O visconde de Santo Thyrso dizia que só um asno é isento de superstição.
Os exemplos ilustres são numerosos, e o mais notório talvez seja o de Napoleão. Nunca promoveu um oficial para o seu estado-maior sem antes verificar qual a sua aura de sorte. Bismarck por sua vez consultava os astros e a numerologia como qualquer cantor de churrascaria. A dama de ferro, Margareth Thatchet, bateu na madeira e fez exorcismos na hora de mandar a esquadra inglesa dar nos argentinos a lição que deu.
Diz a tradição que o pior dia de agosto é o 13, sobretudo se cai numa sexta-feira. Disto estamos livres este ano, porque cai na terça. E ainda bem que o Collor nasceu no dia 12, véspera de 13. Vamos esquecer o que diz o Leonardo Mota: "toda segunda-feira é um dia azarado, 12 cai numa segunda-feira. Exagero do folclorista. Ou superstição de preguiçoso, que começa a semana de ressaca. Numa coisa estão de acordo os entendidos: o dia mais agourento do ano é 24 de agosto, dia de São Bartolomeu.
Eis uma crendice que é secular, segundo Pereira da Costa. "Lá Saint Barthélémy", a 24 de agosto de 1572, caiu numa quinta-feira. Ainda assim, foi uma noite de carnificina na França. Essa história de dias de sorte ou não vem de longe. Os romanos incham os dias faustos e os infaustos. No castelhano, a hora menguada ou mala hora é de amargar. Em Portugal e no Brasil, "hora aberta" é o contrário — hora favorável.
Entre nós, a carga de agosto ficou mais pesada a partir do suicídio do Getúlio, a 24, em 1954. Por mal dos pecados, Jânio renunciou a 25 de agosto de 1961 e desabou sobre a nação o que se sabe, com o desfecho de 1964. Uma última historinha: a 13 de agosto de 1965, Gláucio Gil abriu um programa de TV dizendo "até agora tudo bem". E caiu morto, fulminado por um infarto. Mas não se impressionem. Agosto este ano está a gosto. Vêm aí de volta os cruzados novos. Boa sorte, Brasil!