Comecei a contar o número de vezes em que aparece a palavra novo, mas desisti. A propósito da eleição do Clinton. O neopresidente, como diz a Joyce Pascowitch. O fascínio que exerce o adjetivo novo não está no gibi. Nem no novo gibi. Antecede o Novo Testamento. Coincidência ou não, o próprio presidente é novo. Bush tem 68 anos. Perot, 62. Clinton, 46. É o novo Kennedy. Eleito aos 43 anos, Kennedy tinha o ar de um garotão. The New Guy.
Foi o primeiro presidente americano nascido no século 20. Vinha denso de futuro. E tome novo isso, novo aquilo. Era a New Frontier, que se espalhou pelo mundo. O Carlos Lacerda fundou aqui a Nova Fronteira. Antes lançou no governo o Novo Rio, que hoje é o nome da velha rodoviária carioca. Quem não gosta do que é novo? Por menos novidadeiro que seja, todo mundo tem sua queda pela novidade. O mais recente. O new-fashioned. Vassoura nova varre sempre bem.
Quando a novidade era o francês, era a “dernier cri”. Agora entre novas aspas. New face, o Clinton, ou New Bill, é o new look. Vai fundar os Estados Re-Unidos, ou seja, os Novos Estados Unidos. Situada no Novo Mundo, a nova superpotência americana começou na Nova Inglaterra. York? Não, Nova York. Séculos depois, ainda corre atrás da novidade. Como Roosevelt, Clinton é democrata. Pode invocar o New Deal. O neoliberalismo. Ou o neoestatismo. Escolha.
Vai começar o Novo Patriotismo, jura o Clinton. Hillary, a nova primeira-dama, aplaude. Essa neomania, convenhamos, não é só americana. Hitler fundou a Nova Ordem. Mussolini, o Novo Império. Salazar, o Estado Novo, que o Getúlio copiou aqui. De outro dia mesmo, quem se lembra?, é a “Nova República”. Velha que seja, a Bossa Nova viajou o mundo. Já o Cinema Novo chora novas lágrimas de renovada nostalgia. Que nem a Nouvelle Vague. O Roman Nouveau, coitado, morreu sem dizer ao que veio. Hoje é velharia. Que nem a Nova Classe.
Com a velocidade com que aparecem computadores e moças da nova geração, os menos novos estão fritos. É a neofritura. Estou pensando em lançar o Novo Velho. Já há o novo rico e até o novo pobre. Agora temos o Novo PC, que pede a volta do Novo Colllor, com um terceiro "l" ⏤ de que será? Ataca de neolinguística. Por mim, já decidi. O passado me cansa. Vou tratar de me reinaugurar. Também sou neorrealista. Vou abrir o Novo Antiquário, só com novidades. Novinhas em folha.