A julgar pelos meus dois entrevistados, foi o maior barato. Ela, oito anos, mais falante. Meio penumbroso, ele faz um certo silêncio no caminho adolescente. Lindos. Sou suspeito, e daí? Vieram almoçar comigo e, entre agrados e afagos, banco o saca-rolha. Ele saiu de São Paulo, ela, do Rio. Uma surpresa, esse encontro dos primos na serra. Cada qual com a sua turma. Dois ônibus paulistas e um carioca.

Na fazenda, tipo acampamento, eram mais de 200 garotos. Meninos e meninas, de sete aos 12 anos. Uma garotinha chegou chorando. Soluçou, engoliu fôlego e foi embora. Incidentes, só irrelevantes. Uma menina torceu a perna. À noite o frio chegava a 2°. A Caetana saiu daqui com febre. A expectativa da felicidade adoeceu-a. Como o Pedro, lá ia pela primeira vez. Mas sabiam que valia a pena.

Ora, se valeu! Melhor do que viagem ao exterior. Melhor do que a Disneyworld. Cerco por todos os lados, para descobrir o mel secreto dessa plenitude que trazem estampada na cara. Essa bem-aventurança. Mas não é próprio da felicidade indagar suas causas. A camaradagem, sem pai nem mãe, um fator que talvez conte. Cada chalé 20, 30 crianças, tinha os seus monitores. Rapazes e moças. Tento um paralelo com o colégio interno. Quatro refeições por dia. Mais consentida que imposta, a disciplina.

Levaram na mochila a roupa de cama e banho. Arrumar a própria cama, dos pequenos deveres o chato era lavar o banheiro. Mas quem não quer varrer o chão do céu? Com a piscina e os jogos, não se lembraram de montar. Tinha cavalo, ovelha, vaca. Televisão? Está doido, nem pensar! Que videogame que nada. Violão e flauta. Uma cantoria geral. Música de rádio ou cassete, não. À mesa, entoavam com entusiasmo “Abençoai, Senhor”.

Biblioteca? Só revistinha, na hora de dormir. Cama de beliche. A garota paulista pedia à Caetana pra dizer porta, carne e cachorro. Você é carioca, não é? Paulista fala esquisito, diz ela, chiando os “ss”. Nem por isto a menina de Ribeirão Preto deixa de ser uma graça. O Pedro que o diga. Sereno, admite que fez sucesso. Muito, garante a Caetana, olhos acesos. O Brasil está salvo, penso comigo. Ainda há infância. Livre, espontânea, solta no campo, entregue à mãe Natureza. E a Deus.

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