Há rumores de que o Nobel de literatura distinguirá em outubro próximo um autor de língua portuguesa. Convém não confiar muito, nem falar demais em certos nomes, porque a sorte é madrasta. Jorge Luis Borges viveu e morreu como candidato ao Nobel. Guimarães Rosa me disse a mim que tinha horror de ser lembrado como “nobilizável”. E o disse depois que ficou muito em evidência com Grande Sertão: veredas.

A intenção do Nobel é premiar o mérito, mas na prática não há esse compromisso. Se coincidir, tanto melhor. Se de fato a láurea e o tutu, uma nota preta, vão para Portugal não dou palpite. Há lá alguns nomes à altura. A excitação portuguesa se acentuou com a visita a Lisboa de sete membros da Real Academia Sueca. O Jornal das Letras chegou a adiantar que o nome cogitado foi o de Antônio Ramos Rosa.

Como o Nobel gosta de surpreender, esse Rosa pode ter chance. Outros autores foram citados e, fatal, Miguel Torga, que há 30 anos está na berlinda. Saramago, hoje sucesso no Brasil. Sugere-se que o prêmio deverá recair sobre um poeta, que a poesia é em Portugal, desde Camões até o Pessoa, digamos mais nacional do que a prosa. Os suecos fugiram do meio oficial, mas jantaram com o presidente Mário Soares. Não por ser o presidente, mas por ser o intelectual que é.

Já para Zózimo, que como colunista ouve e interpreta rumores, há um brasileiro entre os candidatos ao Nobel. E não é o Jorge Amado, que cá entre nós continua uma boa pedida. A vez agora é da poesia, garante o Zózimo, e o nome é João Cabral de Melo Neto. Aqui, também dou o meu palpite. Temos hoje, como na geração que ontem veio de 1922, um bom time de poetas. Neste particular o Brasil não está mal servido. Temos até um recém-saído Dicionário de poetas, do Francisco Igreja.

Sem desfazer dos outros, dois a meu ver são “nobilizáveis” também pelo mérito - o citado João Cabral e Abgar Renault. Altíssimo poeta, do alto dos seus 90 anos Abgar tem uma densidade metafísica que foge à tradição lírica luso-brasileira. E para o Nobel tem também a vantagem de ser discreto, bicho-de-concha que é. Mas João Cabral tem ao meu ver um perfil mais atraente para os suecos, pela biografia e pela notícia que dá do Brasil. Ou de Pernambuco, como ele gostará que eu diga. Quanto a merecer, lá isto merece.

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