Tem muita gente aí que, se pudesse, deixava de cumprimentar o Brasil. Outros romperam relações com a pátria amada e deram no pé. Foram curtir a vida lá fora, onde se pode até se dar ao luxo de ter saudade disso aqui. Quem é nissei, se já não está lá do outro lado do planeta, traz na alma o permanente convite à viagem. Partir, encontrar enfim um mundo onde tudo é ordem, luxo e beleza. Jovem que não tem recurso, seja financeiro, seja intelectual, também sonha com Paris e Nova York.

Nem que seja para, clandestino, dar duro nas tarefas mais humildes. Mais um pouco e tem mais brasileiro lá fora, na força da idade, do que trancado aqui no berço esplêndido, que nunca passou do hino à realidade. Vamos acabar, sim, no Primeiro Mundo. Encarregados da faxina: camareiros, garçons, lixeiros... Os ricos vão embora porque podem, têm recursos, que aliás os precedem na viagem à Suíça e a outros paraísos fiscais de sigilo garantido.

Já os pobres se atiram à aventura, porque aqui não dá mais nem para viver a rotina do cauteloso pouco a pouco. A gente esquece fácil, mas a verdade é que aquela abertura lenta, gradual e segura não podia dar em nada que prestasse. Uma pastosa falta de caráter, com essa mania de buscar um acordo que já existe desde 1500. É o consenso do clube do poder. E o resto que se vire. Para os trouxas, o futuro é sempre mais adiante. Tudo é longe para o pobre, como diz o Rosa.

O Collor, por exemplo, é um que cortejou o Brasil de todo jeito. Ia fazer e acontecer. Elegê-lo era comprar o bilhete premiado com a sorte grande. E de lambujem vinha o passaporte para o Primeiro Mundo. Se quisesse, mudava a capital para Cap d’Antibes. No lugar da W-3 punha a Promenade des Anglais. Instalava o Rockfeller Center na estação rodoviária. Até quem não votou nele ficou na dúvida. Nada de corrupção e marajá. Luz, câmera, ação: gravando Indiana Jones!

A minha geração, coitada, mamou o leite do Porque me ufano do meu país. No meu berço não botaram um ursinho, botaram o conde Afonso Celso e a certeza do futuro. Mas está aí de novo a ciranda financeira, trazendo de bonificação o abismo e o caos. Na hora de confiscar o meu dinheirinho, resmunguei tudo pelo amor da pátria. Vale o sacrifício. Agora se reúne esse conselho sombrio e diz que o Brasil faliu. A rima que me ocorre é fácil e pobre, mas deixa pra lá.

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