Outro dia a pergunta era esta. O que é ser mineiro? Assuntinho de amargar. Acho que é ter nascido em Minas, não será? Me dou por suspeito e espero que me perguntem o que é pernambucanidade. Aí recorro ao Gilberto Freyre e mando brasa. O Álvaro Lins, pernambucano, sustentava que mineiro tem muito em comum com pernambucano. Não ouso perguntar ao João Cabral se ele também acha. Pode ficar ofendido. O que é ser alagoano, já este é um tema em recesso.

O que é ser brasileiro. Assim de chofre, apanhado no telefone, estou obtuso. Nada de abstrações, me intima o interlocutor. É uma pesquisa. Exige objetividade. Cite alguma coisa típica do brasileiro. Seu modo de ser. Quanto mais explicação, menos me ocorre o que dizer. Seria mais fácil definir o esquimó. Próprio da cultura brasileira, entende? Não vale falar em feijoada. Futebol, carnaval. O óbvio.

Conto que um professor francês me disse que o brasileiro tem uma forte cultura porque em Paris sente saudade do feijão com arroz. É pela boca, pela cozinha que se conhece um povo. Já aquele rapaz holandês sustenta que brasileiro não se mistura. No exterior, se vive lá, forma um gueto. Só quer saber de brasileiro. Turista, uma semana, 15 dias, e está doido pra vir embora. Por quê? Porque temos um modo típico de nos dar uns com os outros. Um jeito afetuoso. Íntimo. É a nossa marca.

Nada disto satisfaz o meu algoz. Não quer saber do que dizem os gringos a nosso respeito. Eu que diga algo objetivo sobre o comportamento do brasileiro. A ginga, a malemolência. Só os chavões me passam pela ideia. Posso pensar? Não, não pode. Então me lembro da moça canadense. Ficou pasma quando ouviu uma mulher na janela gritar pra vizinha que ia tomar banho. Foi o primeiro choque. A partir daí entendeu o Brasil. Brasileiro é isso, esse jeitão descontraído.

Boazinha a história, mas falta a minha definição do jeito brasileiro de ser. Não vale falar em calor humano. Puxo pela cuca e me vem a conversa com o americano. Só o brasileiro inventaria o quebra-molas. Na Bahia, é redutor de velocidade. Sinais e placas como em qualquer lugar do mundo. E o quebra-molas. Velocidade máxima: 40 km. E o quebra-molas: 5 km. Nos Estados Unidos, quebravam o quebra-molas. E a cara de quem o inventasse. Será que achei? Sim, está aí: é isto ser brasileiro. Nesse exato momento, caiu a ligação. Viva o Brasil!

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