Acho engraçada essa mania que há hoje de escancarar para tudo a porta larga da facilidade. Me dá a impressão de que de repente o ser humano virou um cretino, incapaz de dar um passo se tiver de fazer um mínimo esforço. Em tudo é assim, palavra que não exagero. Vejam, por exemplo, como é que se anuncia o ensino de qualquer língua estrangeira. O anunciante, que é o dono do curso, tem horror da ideia de que alguém possa pensar que ele impõe sacrifício.

Fora o pagamento, este compulsório, com uma nota que leva o nome popular de dolorosa, tudo mais é risonho e franco. Só falta inventar um curso em que o sujeito aprenda inglês dormindo, com direito a um sonho cor-de-rosa. Não se fala em livro, dever de casa, treino da memória, que sempre foi e é a ancila da inteligência. Dicionário, nem pensar. É tudo soft, indolor e gostoso. Na televisão, tem programa que ensina cantando, num cenário de ilhas paradisíacas dos mares do sul.

Eu até gosto de ver. E esse curso televisivo é de fato dos melhores, ou dos mais divertidos. A professora é afinada e bonita. Mas há outros, quase todos, que só faltam convencer o aluno de que aprender sânscrito, por exemplo, é mais fácil do que comer um bombom. Os recursos técnicos mobilizados são fantásticos. Vídeos aos montes, música, viagens. Tem uma tal de imersão que deve ser mergulho no paraíso, com direito a um fim de semana no Mediterranée, ao lado de lindas garotas.

Ora, ninguém nunca aprendeu nada sem um mínimo de esforço. E sem a prévia decisão interior, superteimosa, de aprender mesmo, custe o que custar. Mas a moda hoje é nem falar em coisa assim tão desagradável. Até as crianças, sobretudo elas, devem ser tapeadas ao máximo. Tudo é com açúcar e com afeto. E a criança pode fazer o que bem entender, segundo o evangelho hedonista dessa pedagogia.

A última novidade está nos métodos revolucionários da educação sexual. Tem até jogo para ensinar o que é Aids. O garotinho ou a garotinha que vencer ganha uma camisinha. Coitado do dr. Condom. Nunca imaginou que no Brasil ia ser pediatra. A antiga camisinha de pagão foi substituída hoje pela de Vênus. Estou pensando em abrir um curso para ensinar bebê a fazer cocô. Tudo com felicidade da mamãe e prazer do bebê. Na sala de visitas, claro.

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