Gosto muito de Araxá, ou do Araxá, que é como se dizia antigamente. De Poços, de Lambari, de Caxambu. Além de mineiras e aprazíveis, essas cidades são estações hidrominerais. Já não há hoje aquela fé de outrora na capacidade curativa das águas. A hidroterapia chegou a ser quase um dogma. Tinha um manual que era mais teológico do que terapêutico. Era a Cura pela água, do monsenhor Kneip.

Eu ainda peguei um pouquinho desse tempo e conservo dele, por exemplo, o hábito de tomar toda manhã um copo d’água em jejum. Não podendo passar longas temporadas em Araxá (ou Lindoia, não sou tão bairrista), me contento com o grande volume de água que bebo. Não sou da raça dos papagaios, que não têm sede. Sou mais aquele Alfredo do conto do Murilo Rubião, que só sabia dizer “bebo água”. E bebia.

Peguei também Araxá com o cassino aberto. Curti a Pampulha, em Belo Horizonte. Hoje me parece um sonho. Ou uma superprodução de Hollywood. Aqui no Rio arrisquei umas fichas no Copacabana, em companhia do Aloysio de Salles e de outros, que deixo de citar para não passar por mentiroso. Ouvi Jean Sablon no cassino da Urca: “Vous qui passez sans me voir, sans même me dire bonsoir”. A França reinava, absoluta. Anos depois, perdi dez dólares em Monte Carlo. Vivi anos em Lisboa. Lisboa do Estoril. Fugindo da neve, passei uma noite no cassino de Wisbaden.

Sei que o jogo é uma paixão. Já li Dostoiewski, que entendia de paixões. Até que levo certo jeito para o carteado. Quando jogava pôquer, joguei com o José Olympio e o Bahut. Mesa forte. E não me saí mal. Na Europa, acompanhei uma roda que circulava de Lisboa a Madri, de Paris a Londres. Jogava-se até a passagem aérea. Eu era só peru. Sapeava. Tinha comigo o juramento de nunca mais jogar. E não joguei. Já que falei em peru e sapo, sou teimoso pra burro. Não jogo nem no bicho.

Pois é. Há temas que emburrecem o debate. Um deles é o jogo. Participei como repórter da campanha que fechou os cassinos em 1946. Talvez tenha sido também um jogo de cartas marcadas. Ou até uma jogada para se aproximar do poder, que era o Dutra. O Chateaubriand entrou nessa, com a dupla Nasser-Manzon. Hoje há um partido (do pano) verde que quer reabrir os cassinos. Eu sou contra e um dia, como diria o Jânio, di-lo-ei por quê.

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