RIO DE JANEIRO — É pouco provável que hoje um pai, a menos que seja desnaturado, ponha na filha o nome de Urraca. No entanto, Urraca foi um belo nome em Portugal e de lá vieram várias Urracas para o Brasil. Quem está aqui há muito tempo procure na sua árvore genealógica e na certa achará uma Urraca instalada num dos seus primeiros galhos. Mãe nenhuma dará hoje à filhinha o nome de pia de Tareja.
Como Urraca, Balbina, Briolanja, Ximena, Berengária, Sancha, ou Lindarifa, Tareja já foi mais que aceitável. Foi nobre e bonito. Depois da santa de Ávila, virou Teresa. Outra santa, a petite Therese do Menino Jesus, popularizou entre nós o diminutivo Teresinha. Teresinha foi musa de Manuel Bandeira e inspirou um livro a Ribeiro Couto. Aliás, as numerosas Teresinhas têm hoje a tendência para reverter a Teresas. Amanhã quem sabe poderão de novo ser Tarejas.
Como tudo neste mundo, nome é moda. Nomes seculares e pesados que calham em avós remotos, de repente voltam à circulação. Uma moça bonita ilumina qualquer onomástico. Até Aldonsinda. Ou Geloira. Mas enquanto não cresce e não se impõe, o nome pode ser um entrave. Há nomes de trânsito internacional. Alguns, cosmopolitas, foram criação de poetas, como Beatriz e Laura, as amadas do Dante e do Petrarca. No Brasil, cresce a tendência de agredir as criancinhas com nomes ridículos. Formam-se às vezes de sílabas dos nomes paterno e materno e dão um resultado de matar. E até azar. Alceni será fusão de Álvaro com Cenira? Quando a criança chega aos 18 anos, pode requerer a mudança. Basta demonstrar que a toleima dos pais lhe traz problema. Há tempos, soube de um Catacisco, filho de Catarina com Francisco. Era o primogênito. Se vier agora uma menina, já tem nome. Mas Ciscorina se recusa a nascer.
Um modismo simpático é passar para o feminino nomes masculinos. Mariana, por exemplo, anda bastante frequente. Já soou o seu tanto antigo. Mas sempre achei e acho cada vez mais lindo, por causa de uma certa Mariana de 15 anos. Caetana no castelhano não causa estranheza. No Brasil é raro, mas é uma beleza. E Luisa? Há duas semanas visito uma Luisa recém-chegada a este mundo. Uma joia. Quem diria que Luís veio de Chlodwig? Daí virou Clóvis, Ludwig, Lotichius, Ludovicus, Aluísio e finalmente Luís. Mariana, Caetana e Luisa: três nomes que assentam em três graças. E juro que não é papo de avô.