Uma recente pesquisa revela que 40% dos franceses acreditam no inferno. Maior é o número dos que creem na ressurreição de Jesus Cristo – 75%. Sessenta por cento acreditam na vida eterna e só 38% sustentam que o diabo existe. E o mundo, será que vai acabar, como prevê o Apocalipse? Trinta e seis por cento dizem que sim. É possível que os resultados não fossem muito diferentes, se a pesquisa fosse feita aqui entre nós.

A França era conhecida como a filha primogênita da Igreja. O Brasil foi considerado o maior país católico do mundo. Ponho os verbos no passado porque chavões desse tipo vêm sendo contestados por gente que professa a fé católica. Em boa hora desligada do poder temporal, a Igreja não tem hoje o prestígio que teve, por exemplo, durante o Império.

Prestígio, dizia o Bernanos, é o hálito do demônio. A associação da Igreja com o Estado resultou num regalismo que entrou pela República e tornou bastante próximas autoridades civis e autoridades eclesiásticas. A partir do Concílio Vaticano II e no Brasil a partir dos governos militares, a situação da Igreja mudou. E mudou numa sociedade cada vez mais dessacralizada e cada vez mais profana.

Basta ver o que é hoje a Semana Santa, no atropelo do feriadão que entope as estradas. Até as cidades tradicionalmente católicas, como Ouro Preto, são vistas mais como alvo turístico do que como centro religioso. O mesmo acontece na Espanha com Sevilha. Dom Lucas Moreira Neves, cardeal primaz do Brasil, reconhece a importância que teve na sua vocação o clima profundamente religioso da cidade em que nasceu e cresceu – São João del Rei. Nunca se calam os sinos que ouviu na infância e lhe falaram à alma.

Não há de ser pelo critério estatístico que se avaliará a presença do catolicismo na cultura nacional. Ou a fé do nosso povo. Há um jeito brasileiro de ser católico. A misericórdia de Deus é maior do que a sua justiça, dizia Tristão de Athayde. E continuava: “Deus é tão misericordioso que poderá absolver o homem e livrá-lo da condenação eterna.” Tocado pelo coração, afetivo, é este o jeito brasileiro de ser católico, num mundo e num Brasil que parecem, mais que hostis, indiferentes à religião de Roma.

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