A história do Chapeuzinho Vermelho já foi escrita de várias maneiras. Não só ela, mas todas as histórias da carochinha têm tido paródias e interpretações várias. Bruno Bettelheim fez a psicanálise dos contos de fadas. Está na hora de escrever a versão ecológica do Chapeuzinho. Se quiserem, podem chamá-lo de Chapeuzinho Verde. Com a floresta na moda, seu dernier cri, no bom sentido, claro, a menina de gorrinho encarnado pode ser o símbolo da inocência ambientalista neste mundo cruel.
Talvez seja o caso de modificar um pouquinho o roteiro tradicional, para que as crianças e, por que não?, também os adultos, tirem da história a atualíssima lição moral que ela encerra. Pode-se dar mais vida e colorido à viagem de Chapeuzinho, pondo à sua volta pássaros, borboletas e outros seres vivos que ilustram a insubstituível biodiversidade. Pela estrada afora, a menina irá cantando mais feliz, com a natureza em festa.
Os caçadores e os lenhadores podem continuar no elenco, mas é preciso aposentá-los. Já não lenham, nem caçam. Figuras decorativas, arrependeram-se de seus antigos pecados profissionais e hoje integram o corpo de baile ambientalista. Chapeuzinho vai como sempre visitar a vovozinha, que já não estará doente. Graças à medicina natural, ficou curada de seus males e, de pé, também dança. Canta ao mesmo tempo uma ária que louva o poder das miraculosas plantas da floresta tropical.
Agora é que o Lobo Mau não desiste de devorar a santa senhora. A vovó, porém, consegue se livrar de suas fauces. Ágil, tendo acabado de fazer ginástica e musculação, ela sai pela janela e vai ao encontro de sua neta querida. Juntas, a velha e a menina traçam o plano de ataque à fera, quando chegam os caçadores. Unidos, todos obrigam o Lobo Mau a assinar um pacto de respeito à floresta. “If you don't sign, we just kill you”, diz a νονό.
Claro, a esta altura, vocês já perceberam que o Lobo Mau não é outro senão mr. Bush. Desmascarado, ele jura renunciar à sua prática belicosa e mortífera. Não tem culpa se sua pátria tem num lenhador o seu grande ídolo republicano. Mas explica que Abe Lincoln pagou com a vida os seus crimes, depois de ter provocado uma guerra fratricida. Dançam todos no final, ao som de Forever Green. homenagem ao país anfitrião da Eco-92.
