A reunião foi à noite, no Morro da Viúva. Chovia há 48 horas no Rio. Alagada, sufocada pela chuva, a cidade fica uma tristeza. Sem sol, o Rio não existe. É pior do que filme nacional mal iluminado. É como apagar a luz durante o desfile das escolas de samba. A gente passa pela praia e vê que até o mar está uma fera, espumando de raiva e de saudade do sol.
Por mal dos pecados, a greve dos lixeiros agravou o quadro. Montes de lixo ao longo de toda a rua. Lixo ensacado e molhado, à vista. Uma coisa despudorada, como braguilha aberta, ou intestinos à mostra. A título de consolo me lembrei de Nova York. Vi lá uma greve de lixeiros que ficou histórica. Me lembrei de Paris, de sujeira e de ratos ilustres, que presenciei.
Na reunião, com drinques, havia como sempre gente que estava chegando de São Paulo. E gente que estava indo a São Paulo. Se continuar chovendo aqui e aí, como tem chovido, santo Deus, mais um pouco e a ponte vai deixar de ser aérea. Podem voltar as barcas da Cantareira, para essa nova linha. Da última vez que fui a São Paulo me arrependi de não ter posto uma boia na bagagem. E um bote inflável.
A reunião no Morro da Viúva tinha um propósito nobre — ajudar a PUC do Rio, que está fazendo 50 anos. Ganhou um computador de 16 milhões de dólares, mas não tem 1 milhão (também de dólares) para instalá-lo. Há tempos, uma cartinha jeitosa foi enviada a 8 mil ex-alunos da PUC. Tudo gente fina. Sabem quantos responderam? 22! Eta Brasil! Todo mundo quer se livrar do Leviatã do Estado, mas todo mundo quer mamar nas suas tetas.
Saudosismo é como pigarro: incomoda e é cacoete de velho. Mas no meu tempo de estudante ninguém era bastante doido para pedir uma bica d’água na universidade. Hoje, a universidade é quase que só o “bandejão”. Baratinho, a preço de banana. Do ensino só se fala das taxas. Caríssimas. Curioso: não saí pessimista da reunião. Alta noite, rodei pela cidade no meu fusquinha. Devia haver dois turnos nas megalópoles de hoje. Um diurno e um noturno, para desobstruir as ruas. De noite até os sacos de lixo pareciam decorativos. E cintilavam de felicidade.