Você olha uma fotografia do princípio do século e não acredita que aquele pessoal tão encasacado morasse numa cidade quente como o Rio. Nem precisa recuar tanto, remontando ao Rodrigues Alves e ao Rio Branco, ao Machado e ao Nabuco. Nos anos 20, até 1930, mesmo um pouco depois, seja nos retratos, seja nos filmes, está todo mundo enroupado e enchapelado. Terno era de três peças mesmo: calça, colete e paletó.
O panamá, depois a palheta, já se situam na transição dos costumes. Chapéu era de feltro, como na Europa. Até as grifes eram as de Paris e Londres. Observe no retrato um grupo de graves senhores daquele tempo e você jura que nevava no Rio. Só falta a coroa branca de neve no cocoruto do Corcovado ou no Pão de Açúcar. Presidente, senador, deputado, todos só apareciam engravatados.
Hoje, a modernidade se impôs. Recolheu fraques e casacas, redingotes e polainas. Quem terá sido o primeiro presidente de cabeça descoberta? Talvez Juscelino. Mas Juscelino também seguia o protocolo. Vejam a pose dele em 1960, na inauguração de Brasília. Enxoval completo. Jânio inventou o “pijânio” em 1961. Escrevi aqui que foi inspirada na guayabera cubana. Não foi. Nada como um leitor atento para corrigir a gente.
A guayabera não tem bordados verticais, ou de outro tipo. Jânio se inspirou foi no uniforme de trabalho do funcionário indiano. Antes de ir à Cuba do Fidel, ele já admirava o Nehru e lhe copiou a túnica sóbria, adequada ao nosso clima. Mangas curtas, bolsos largos, metido nessa túnica é que governou o Brasil com seus bilhetinhos enérgicos. Na hora solene se enfarpelava como manda a etiqueta. Chapéu, só em viagem ao exterior.
Hoje o Collor aparece toda hora de calção. Corre e depois mergulha a cara na água como um garotão. Novos tempos, nem sunga ninguém estranha. Antes dele, sem a sua silhueta, o Figueiredo posou de calção e fez cooper para fotógrafos e cinegrafistas. Ninguém imaginaria o Bernardes ou o Getúlio num flagrante assim. Acho que nem o JK. O Castello muito menos. A descontração é total, mas com um monte de seguranças à espreita. O governo estará hoje mais perto do povo? Pela pesquisa o povo está é se distanciando. Mas a informalidade sempre dá pé para perguntas como a da Sônia Carneiro.