As janelas fechadas, podia ser em Bangcoc, ou em Londres. Nem sei se de fato havia janelas. Paisagem, sei que não havia. As luzes acesas. Luzes? Não eram luzes, mesmo porque não se viam lâmpadas. A claridade inundava as salas climatizadas. Impessoal, mas agradável o ambiente. Tudo fabricado a propósito, até o ar que respirávamos. Os móveis sóbrios ali estavam desde sempre, para sempre. Tudo claro, claríssimo.
Podia ser em qualquer parte do mundo. E em qualquer estação. Lá fora podia nevar, ou fazer um calor de derreter os untos. Esperava-se uma palavra de Genebra e, enquanto não vinha, toda conversa era dispensável. De vez em quando, passava por mim, calça branca, blazer azul, um cavalheiro de cabelos grisalhos. Com isenta naturalidade, era mais um móvel, entre os móveis. O único que de fato se movia.
Passou pela minha cabeça a ideia absurda de pedir uma folha de papel. Guardei o desejo estulto, como quem guarda uma caneta que acaba de furtar. Não pedi o papel. Não mugi, nem tugi. Mas o desejo recolhido me denunciava. Devia ser culpa minha a demora do fax. Tudo era perfeito no triângulo da perfeita modernidade.
Podia ser também Nova York. Não sei identificar à primeira vista a marca de um computador. E eram vários ali os computadores. Pequenos, discretos, silenciosos. Devem ser da última geração, pensei baixinho. Por um momento me senti num berçário de informática. O cavalheiro grisalho passou por mim sem me ver. Se apertasse um invisível botão, ou tocasse numa tecla, meu pensamento idiota se tornava público. Eu era ali, via-se, um ridículo anacronismo.
No meio da mesa, o telefone era um objeto de arte. Pelo microfone, mínimo, uma joia, viria a voz para um eventual detalhe. Se fosse uma estação interplanetária, em que língua falaríamos? O fax ciciava a sua língua de papel. Fosse o que fosse, cumpria esperar. Era só dizer sim. Sem olhar para ninguém, como entrei, saí. Precisava ter certeza de que tinha sangue nas veias. No tumulto da rua, um camelô me ofereceu uma canetinha dessas bem vagabundas. Que alívio! Estava no Rio e achei a folha de papel que me faltava.