Mãe é um tema duro de roer. Muito convencional, o melhor é evitar. Mas enquanto a ciência e as novelas da televisão não inventam um sucedâneo, mãe é assunto obrigatório. Em todas as línguas, os piores xingamentos acertam direto no alvo materno. No outro extremo, está o polo romântico. Não há poeta que não tenha tomado a própria mãe por tema e inspiração. Pelo menos no tempo em que os poetas não escreviam, mas tangiam a lira.

Mãe e Academia, eis aqui dois assuntos ultra convencionais. Aliás, que é que não é convencional neste mundo? Até ser anticonvencional, funk, punk, seja lá o que for, acaba em convencionalismo. Pensando em presentes excêntricos para o Dia das Mães, me lembrei de João Guimarães Rosa. Como bom mineiro, ele era pão-duro. Não chegava a ser avaro, como Gide. Dinheiro, dizia ele, é para juntar. Não é pra gastar.

Rosa não era ainda o autor de Grande sertão: veredas, mas já tinha estourado com o Sagarana, que é de 1946. Dez anos antes, em 1936, tinha ganho o Prêmio de Poesia da Academia Brasileira com Magma, um livro que ele nunca publicou. Naqueles anos 30, a Academia vivia ainda na chacota dos modernistas. Augusto Frederico Schmidt era editor. A Academia premiou um livro de sua editora. Ele não teve dúvida. Passou uma cinta no volume: “Premiando este livro, a ABL confirmou o parecer dos entendidos”.

Pois eu fui almoçar com o Rosa no Itamaraty. Eu também sou mineiro e no Itamaraty era baratinho. Interpelei-o acerca da notícia nos jornais: com que então ele era candidato à Academia? Olhinhos fechados, Rosa riu e me deu um monte de razões. Dona Chiquinha, sua mãe, toda semana fazia a feira na av. Paraúna, em Belo Horizonte, onde hoje é o Savassi. Se ela dissesse que era a mãe do JGR, ninguém ligava. Mas se dissesse que o seu filho era da Academia, seria um sucesso.

Bom filho, ele não podia negar essa alegria a dona Chiquinha. Queria tomar posse no dia do aniversário dela. Mas não foi dessa vez que o Rosa se candidatou. Candidatou-se mesmo anos depois e custou a tomar posse, em 1967. Temia morrer na posse. Pois não deu outra: morreu horas depois. Ou ficou encantado, como ele dizia. Tudo para agradar à mãe.

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