Por que é que existe erro no mundo? Se há o certo e o errado, por que tudo não sai sempre certo? A pergunta é meio simplória, mas a resposta é difícil, se devo dá-la a uma criança que mal chegou à idade da razão. Com a sua curiosidade, a Caetana me ensina mais do que com a minha resposta poderia eu ensinar a ela. Embatucado, quero saber por que já traz consigo esse tipo de cogitação. Mas aqui é another story.

Sim, um certo tipo de erro não devia e não precisava existir. Erro de revisão, por exemplo. Hostil à pena capital, costumo dizer que o de revisão é o único erro que a merece. Se há revisor, o erro de revisão é uma excrescência. Quando surgiu o computador na imprensa, pensei que vinha para acabar com a gralha. Qual o quê. Sofisticou-a. Já nem se pode botar a culpa no revisor.

Estou me lembrando de erros que eu próprio cometo aqui. Miúdos, quase imperceptíveis e, todavia, graves. Não me conformo. Fico uma fera comigo mesmo. Cito dois exemplos recentes. Na coluna “Vencedor contra perdedor”, registrei o que o Ziraldo declarou à Marília Gabriela — que prefere o Garrincha ao Pelé. Pois era exatamente o contrário: prefere o Pelé ao Garrincha. Eu questionava essa antinomia bem americana de vencedor e perdedor. E perguntava se o Garrincha é mesmo um perdedor. O leitor Paulo Marcelo Sampaio acha que não é. Foi ele quem me chamou a atenção para o meu engano.

Por mais depressa que trabalhe, escrevo, leio, releio. E, no entanto, pus no papel o oposto do que queria. Um leitor malicioso poderá observar que me faltou convicção e o inconsciente me traiu. Noutra coluna, “A volta dos jardins”, tratei da recuperação da praça da Liberdade em Belo Horizonte. Os jardins voltaram a ser como em 1920, quando lá esteve em visita o rei Leopoldo. Escrevi, li, reli. Daí uns dias, chega uma carta do meu amigo Francisco Iglésias. Que Leopoldo que nada!

Estou careca de saber que foi o heroico rei Alberto da Bélgica que visitou o Brasil. Nunca podia ter confundido Leopoldo, fosse o 1º, o 2° ou o 3°, com o rei Alberto que aqui esteve depois da 1ª Guerra Mundial. Quem, como eu, morou em Bruxelas jamais podia cometer erro tão boboca. Examinei várias hipóteses para explicar o meu equívoco. Seria a atual notoriedade do Leopoldo Collor de Mello? A imprensa o chama de 1° Irmão. Qual! Fica o travo da pequenina humilhação, que me convida à humildade. 

otto-lara-resende
x
- +