A 30 de abril de 1942, há 50 anos, Mário de Andrade fez no Rio a famosa conferência sobre a Semana de 1922. Foi no salão da Biblioteca do Ministério das Relações Exteriores, dirigida por Luís Camilo de Oliveira Neto. No ano seguinte, Luís Camilo assinaria o Manifesto dos Mineiros e seria exonerado. O manifesto pedia o fim da ditadura. A conferência de Mário de Andrade estava associada à causa da democracia e dos aliados.

A guerra se inclinava então a favor do nazifascismo. No Brasil, o Estado Novo impunha o silêncio e a censura. Saudado por Augusto de Almeida Filho, em nome da Casa do Estudante do Brasil, Mário pregava o “amilhoramento político-social do homem”. Carlos Drummond de Andrade, chefe de gabinete do ministro Gustavo Capanema, presidia a mesa. O ministro do exterior, Oswaldo Aranha, era simpático à causa aliada.

“Os abstencionismos e os valores eternos podem ficar para depois”, disse Mário. Aos 48 anos de idade, já figura histórica, era o papa do modernismo. Patético, sua conferência mobilizava pelo país afora jovens de todas as idades. Tendo na circunstância optado pelo engajamento, pediu em versos a abertura da Segunda Frente. Sem a invasão da Europa, Hitler arriscava ganhar a guerra. Ninguém podia “se sentar na beira do caminho, espiando a multidão passar”.

Sua palavra final soava como uma clarinada: “Marchem com as multidões. Aos espiões nunca foi necessária essa ‘liberdade’ pela qual tanto se grita. Nos períodos de maior escravização do indivíduo, Grécia, Egito, artes e ciências não deixaram de florescer. Será que a liberdade é uma bobagem? Será que o direito é uma bobagem? A vida humana é que é alguma coisa mais que ciências, artes e profissões. E é nessa vida que a liberdade tem um sentido, e o direito dos homens. A liberdade não é um prêmio, é uma sanção. Que há de vir”.

Vinte anos antes, uma eternidade aos nossos olhos da época, o jovem Mário, 28 anos, tinha dito versos debaixo de uma vaia bulhenta, no Teatro Municipal de São Paulo. Sentado na escadaria, entre ofensas e caçoadas, falou depois sobre artes plásticas. Um ano antes Mário tinha conhecido Manuel Bandeira em casa de Ronald de Carvalho, no Rio. Leu ali, ainda inédita, Paulicéia desvairada. 1922 e 1942. Bons tempos. Merecem ser lembrados e exaltados. 

otto-lara-resende
x
- +