Ainda não conheço, postas em ordem por Gabriel Priolli, as histórias que o Walter Clark vai contar. Desde já aplaudo, porém, a sua decisão de pôr em livro a aventura pioneira que viveu na televisão. Dizemos todos que somos um país sem memória. O videoteipe e outros recursos técnicos não nos curam a amnésia. É preciso que cada qual dê o seu depoimento. Precisamos de incentivar e ampliar o memorialismo no Brasil. Sem memória não há cultura.

No caso da televisão, um veículo recente, o que o Walter Clark vai contar será na certa a narrativa de um protagonista que esteve em cena durante os anos decisivos de uma época. O seu papel foi de primeira grandeza. Tendo estado ao seu lado por um bom período, hoje, à distância, posso olhar para trás e fazer uma avaliação, que de resto não precisa ser isenta de calor humano.

Nem de paixão. Pois foi com paixão que Walter se atirou à oportunidade e à missão que a vida lhe ofereceu. Ele tinha de ser, como foi, naquela altura, um traço-de-união. Tinha para tanto a empatia e a imantação pessoal. Difícil encontrar um profissional daquele tempo que não tenha passado pelo seu horizonte — para não dizer por sua mão. Tendo começado como publicitário, nada na televisão lhe era estranho. Quem, como eu, o viu naqueles anos 50 sabe com que talento ele ampliou o seu espaço.

Primeiro foi na TV Rio, ali no posto seis, onde antes era o Cassino Atlântico. Quando, em 1965, a TV Globo pôs no ar o seu sinal, Walter era fora de dúvida a liderança mais visível no confuso universo da televisão. Como diretor-geral, coube-lhe consolidar uma profissão que apenas dava os primeiros passos. Era o começo e era também a novidade. A inovação. Cada um pense o que quiser, mas o Brasil era um antes da TV e é outro depois dela. Foi uma revolução social.

O rapaz inquieto e perspicaz que encontrei na TV Rio acompanhou passo a passo os velozes avanços da tecnologia. Na telinha mágica, primeiro em preto e branco, depois em cores, Walter projetou o seu sonho de poeta. Carioca de São Paulo, paulista do Rio, o encontro da televisão com o Walter foi mais do que uma simples coincidência. Foi um destino. Aos meus olhos de hoje foi também uma festa, de que participei um pouco às cegas, mas com muito prazer. E com saudade, digo agora.

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