RIO DE JANEIRO - Hoje é aniversário da República. 102 anos e ainda não tomou juízo. Começou instável pela espada de Deodoro, e continua aí na corda bamba. Deodoro renunciou, Floriano assumiu. Outro marechal, e de novo alagoano, o que em absoluto não é defeito. Presidente pode ser de qualquer Estado. Se for de um Estado pequeno e for bom, ótimo. O Sebastião Nery escreveu que o que tenho contra o Collor é ele não ser mineiro. Ora, bolas. Isto é lá argumento?

Sou repúblico e parlamentarista. Sempre fui. E não desejo golpe nem em cima do Collor, nem em cima de ninguém. Mas vamos falar do passado. O Floriano era o Marechal de Ferro. Ficou no governo à força, voluntarioso como ele só. Ou gostavam dele ou lhe tinham ódio. Em 1893, comprometeu-se a fazer eleições. Quando divulgou a nota oficial, só se referiu à eleição para o Legislativo. E ficou lá, mandão. Isto é que era a doutrina florianista.

A certa altura, constou que ia nomear o Barata Ribeiro, médico, para o Supremo. Um absurdo. Floriano autoriza o desmentido. No dia seguinte, sai a nomeação do Barata. O ministro do Exterior era Carlos de Carvalho. Nunca mais pôs os pés no palácio. Foi ministro 17 dias, mas a mentira ele não engoliu. Um caráter. E que exemplo para hoje! Esse negócio de presidente mentir é uma tristeza. Diz uma coisa e faz outra. Tem uma porção de mentirinha na história da República. Péssimo para a educação cívica das crianças.

Agora veja como era o cortejo do imperador. Sempre a galope. Na frente, dois batedores de espada desembainhada. A seguir, a grande sege, puxada a quatro, com lacaios montados, com dois por detrás, todos com chapéu de veludo, redondos, de pala. Por fim, o grande piquete comandado por um oficial que seguia ao lado da portinhola do coche. Toda gente olhava, tirava o chapéu e se inundava de eflúvio sobrenatural (sic), o imperador!

Algo de diferente, sobre-humano, inacessível. Pouco se via o imperador. Só se vislumbrava o branco das grandes barbas no fundo do carro sombrio. A voz era fraca. Vozinha pouco nítida, contrastava com o porte respeitável. Bom, tudo isto está no livro do Rodrigo Octavio. Um luxo. Já na República, o Prudente escrevia do próprio punho e tinha só um oficial de gabinete. Muito bonito o Império, d. Pedro 2º e tal e coisa. Monocultura e escravidão. Quer saber de uma coisa? Viva a República! É tocar pra frente, esperar a eleição e mandar brasa. Sempre no voto.

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