A moda ecológica, que, exageros à parte, veio para ficar, repôs no palco, bem visível, a questão amazônica. A controvérsia volta à cena e incendeia os espíritos, o que é melhor do que incendiar a mata virgem. A partir do momento em que o mistério que cerca a Amazônia deixou entrever o tesouro de suas jazidas minerais, o chamado “inferno verde” veio ganhando múltiplas pinceladas de cores celestiais.

Só depois apareceu a história do pulmão do mundo. Os ricos descobriram que respiram graças ao balão de oxigênio que está aqui e não lhes pertence. Como de outras vezes, o olho grande da cobiça internacional está de novo em cima da Amazônia. A nota nacionalista em certos momentos pode ter subido de tom um sustenido. Ou mais. A emoção não costuma ser afinada, nem coletiva, respeita a pauta de certas conveniências.

Foi assim, por exemplo, no caso do Instituto Internacional da Hileia Amazônica. Iniciativa da ONU, elaborada pela Unesco em 1946, chegou ao Congresso em 1948, mandada pelo presidente Dutra. O projeto ia sendo aprovado na maciota, quando se ergueu a voz do velho Artur Bernardes. Em 1950, aos 75 anos de idade, seus discursos traziam a mesma juvenil vibração de sua campanha antiimperialista dos anos 20. E denunciavam o projeto como tentativa de alienação da nossa soberania, na linha das investidas inglesas que remontam ao começo do século 19.

Para o ex-presidente, instituto ou expedição científica, era tudo conversa fiada. As potências que tinham ganho a guerra em 1945 queriam era ocupar e distribuir entre si o que Humboldt chamou de Hileia. Na grande imprensa e no Congresso, muita gente riu do velho Bernardes. Estava gagá, possuído por um nacionalismo anacrônico que nos condenava ao atraso.

Bernardes, porém, fincou pé. Subia à tribuna da Câmara e lascava a sentença de Washington: “Não pode haver maior erro do que esperar favores reais de uma nação a outra.”. Ou no original, que Mr. Bush entende e assina: “There can be no greater error than to expect or calculate upon real favors from nation to nation.”. Não se falava ainda em biodiversidade nem em ecologia. Mas Bernardes denunciava a entrega da Amazônia ao estrangeiro. Sem um terço do nosso território, dizia, o Brasil deixa de ser brasileiro.

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