Bob Dylan cancelou a vinda ao Brasil. Ia fazer aqui cinco shows. Em Porto Alegre, no Rio, em Belo Horizonte e em São Paulo. Com a ignorância que reina lá fora com relação à nossa geografia, convém dizer que nenhuma dessas cidades está situada na Amazônia. O cantor e compositor iria também à Argentina e ao Uruguai. Presumo que tenha igualmente desistido de atravessar o rio da Prata.

Gentil, a assessoria de Bob Dylan distribuiu uma nota explicando a razão do cancelamento. Um dos músicos da banda caiu doente, coitado. Não poderia viajar, fosse para onde fosse. Quanto mais para o Brasil, capital Buenos Aires. No imaginário americano (não é assim que se diz?), o Brasil é hoje só a Amazônia. Não a Amazônia do irmão do Egberto, a da próspera Zona Franca.

Mas a Amazônia do Euclydes da Cunha. Do Alberto Rangel. O inferno verde. Ou pior ainda: a floresta primitiva e já não tão virgem. Até por lá na selva o tabu da virgindade entrou em decadência. Saiu da moda. Mas os americanos é que não vão nesta conversa. Querem preservar intocada a floresta, para respirarem melhor em Chicago e Detroit. Pode não ter fundamento científico a tese, mas eles caíram de amor pela rainy forest. Nem um mosquito pode ser morto. A floresta é nossa, isto é, deles. Amazonia is ours. Eles lá e nós aqui.

Gentileza à parte, Bob Dylan está apavorado com a epidemia de cólera. Antes de Oswaldo Cruz, a febre amarela, a varíola e a peste bubônica grassavam aqui no Rio. A febre amarela era conhecida como patriótica, porque só matava estrangeiro. Ou melhor: português. Quase que só português é que vinha dar com os costados aqui. Contraía a febre e esticava as canelas. O Rio tinha a febre, mas tinha também espírito.

Até o Barão do Rio Branco tinha medo. Da febre, não do espírito. Chegou para ser ministro e subiu correndo para Petrópolis. Naquele tempo a medicina era o Chernoviz. Cura mesmo só começou com os antibióticos. Entrevistei Fleming no Rio, em 1946. Não fosse a penicilina, estávamos todos até hoje ingerindo opiáceos. Ou placebos. O cólera pede cuidados, mas não justifica alarma: Não vivemos na Idade Média. O vibrião colérico não é genocida. Quantos músicos a droga já matou nos Estados Unidos? Bob Dylan está é de porre. Ou é hipocondríaco.

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