Gostei dessa ideia do “kaos” com “k”. Escrito assim, por um lado parece mais terrível, mais abissal, e por outro é novidade. O caos com “c” já está monótono e repetitivo. Se me permitem usar a linguagem presidencial, já encheu. Precisamos de renovação, de modernidade. E é bom começar pelas palavras, ou ao menos por sua grafia. Se o caos tivesse barbas, estariam branquinhas. Já pode por isso mesmo ser promovido a “kaos” por antiguidade.

Na sua forma primitiva, o caos é grego. Depois latino. Antes, é hebraico e existe desde o princípio dos tempos. Ou até antes. Tohu wa bohu, no hebraico, quer dizer vazio, anterior à criação do mundo. Quando ainda não havia o que destruir, mas só desolação, já existia o caos. Está em Jeremias e Isaías. Tanto pode significar qualquer coisa anterior à forma, como a última etapa no caminho da demência.

Quem como eu estudou pela velha ortografia aprendeu a escrever “chaos” com este “h” intermediário. Caiu o “h” com a reforma ortográfica, única reforma que conseguimos levar a cabo. E assim mesmo não é definitiva. Volta e meia se fala de outra reforma. Quem sabe o caos agora venha a ser escrito com “k”, para assim se tornar mais ameaçador. Com “c” e sem o “h” não impressiona muito. Há anos e anos ele troveja no horizonte brasileiro.

Quando o Jânio renunciou e se fez ao largo, o país ficou sem rumo. Houve farta emissão de notas oficiais. Jango era o vice eleito e empossado. Estava na China. Mas os ministros militares avisaram que ele não podia voltar ao Brasil. E assinaram os três a frase fatal: “O país caminha para o caos”. Governador do Rio Grande do Sul, Brizola pagou para ver. A cadeia da legalidade eletrizou o país, com a expectativa da guerra civil. De lá para cá são 30 anos de caos. Tenham a santa paciência!

A coragem de dizer “não” abriu caminho para a posse do Jango. No Rio, com o Josué Guimarães, a gente entrava pela noite adentro. Depois o Aparecido me arrastou a Belo Horizonte. Para descansar o espírito, lá redigi o “manifesto” com a chave de ouro que ficou famosa: “Minas está onde sempre esteve”. Minas de fato nunca perdeu a cabeça, desde os tempos em que o “chaos” se escrevia com “h”, como é em inglês e francês, no mundo civilizado. O caos caminha para o país, dizem agora vozes apocalípticas. Mas para assustar mesmo, só escrevendo com “k”: o kaos!

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