Não sei se vocês já ouviram falar no padre Carapuceiro. Seu nome era Manuel Sacramento Lopes Gama. Carapuceiro é alcunha. Distribuía carapuça pra todo mundo. Hoje em dia o que não ia lhe faltar era cabeça. Viveu de 1791 a 1852. Pernambucano, professor de retórica, deputado e jornalista. Liberal exaltadíssimo, teve sete jornais. Entre eles um chamado O Carapuceiro. Veio daí o apelido.
Mencionei outro dia aqui um livro americano que ensina a mentir com estatística. Se é assim nos Estados Unidos e até na Suécia, imaginem como é no Brasil. Somos o reino do aproximadamente. Que hora você vai sair? Cedo. Bem dizia meu pai: cedo não é hora. Uma coisa sem autor a gente diz que é de todo mundo. Todo mundo chega tarde. Tarde não é hora. E todo mundo é ninguém. Desculpem, mas é de novo o meu pai.
Ouvi dizer que os casais estão se separando menos por causa da crise. Hoje acho que o pessoal casa pra se separar. E tome casamento em cima de casamento. Casar uma vez só é careta. Viver com a própria mulher é brega. Não há mais pai nem mãe. Só padrasto e madrasta. Filho daquela senhora assim-assim agora é enteado da “p”. Com o casamento temporário, se o cara não tem dinheiro, tem que aguentar a mulherzinha debaixo do mesmo teto. Ou vice-versa.
Agora vejam. Está no livro do Waldemar Valente sobre o padre Carapuceiro. Quem me dá notícia é o Nilo Pereira, cronista do Recife. Lá por 1840, o Carapuceiro divulgou números pioneiros em matéria de estatística sobre o bem-estar das famílias. Em pleno século 19! Dou exemplos. Mulheres que fugiram dos maridos: 1.362. Separados de comum acordo: 5.230. Casados que vivem em casa em constante guerra: 280 mil. Casais que vivem mal e aparentam harmonia: 240 mil. Indiferentes entre si: 880.560.
Não me perguntem como é que o padre fez a pesquisa. Tem mais, muito mais. Casados felizes comparados com outros mais desgraçados: 346. Agora esta: casados verdadeiramente felizes: nove. (Sodoma não tinha nem um único justo). Senhoras enganjentas de maridos ou amantes: 1.670.000. Vadias e desleixadas: 55.820. Tagarelas, teimosas e briguentas: 85.538. Viúvas que choram o falecido e estão de olho no pretendente: 68.330. Queixosas de gastrite e espartilhadas: 79.400. Não me perguntem qual era o universo da pesquisa. Neste ano do censo, o Carapuceiro devia ter uma estátua. Machista, é verdade. Mas e o Lampião? Só falta dizer que era feminista e cabeça aberta, moderninho.
