Presumo que hoje em dia não é fácil ter acesso ao serviço militar. Já se foi o tempo em que a convocação metia medo. No interior, a ameaça de ser convocado assustava a rapaziada. Era mato ou morro. Ou fugia pro mato, ou sumia no morro. Dizia-se que era ainda reminiscência da Guerra do Paraguai.

Prova de que o Brasil não é uma nação guerreira. Antes, orgulha-se de sua vida em paz. A guerra é até proibida por preceito constitucional. É verdade que a Constituição mete o bedelho em tudo. Não sei como não mandou chover no Nordeste. Ou não proibiu os aguaceiros e a inundação nas cidades.

Até os anos 40 e 50, se o jovem não fazia CPOR, ou se não providenciava um certificado de reservista de 3ª categoria, estava frito. Virava soldado na certa. Precisava no mínimo ser peixe, ou peixinho, isto é, ter a proteção de alguém. O pistolão funcionava para não ser alistado, nem convocado.

Não sei se Olavo Bilac era reservista. Sei que foi ele que lançou em 1915 a campanha pelo serviço militar obrigatório. Saiu pregando por esse Brasil adentro. A sua palavra deixou ecos que até hoje estão no ar. Nas Forças Armadas, o jovem encontra a escola de civismo que lhe convém.

Num soneto parnasiano, de cadência militar e rima rica, a pregação de Bilac fica muito bem. Já na realidade acho estranho que se exalte o serviço militar porque só assim os rapazes de modesta condição social são apresentados à escova de dentes e às letras do alfabeto.

A pobreza absoluta de milhões e milhões de brasileiros é uma vergonha que clama aos céus. Por mais que se exalte a missão das Forças Armadas, ninguém é insensato a ponto de sustentar que lhes cabe redimir essa legião de deserdados. Ou pôr fim à nossa obscena distribuição de renda.

A guerra pede hoje tecnologia de ponta. Armas sofisticadíssimas. Sem preparo técnico e nível intelectual, um soldado é um pobre diabo. Presume-se que o Estado, na modernidade, saiba disso. E não pode se orgulhar de um exército que escove os dentes dos recrutas. Ou lhes ensine a lavar as mãos. E os pés descalços.