Daqui a pouco vai fazer 500 anos que a América foi descoberta. Mais oito anos e o Brasil celebra também o seu aniversário de cinco séculos. Já é tempo de começar a preparar a festa. Pensar no bolo e ir juntando as velinhas. Quem sabe o bolo pode significar também o calote. Ou o perdão. Um bom costume que se perdeu era o do ano sabático. De sete em sete anos, todas as dívidas eram perdoadas. Vinha o perdão universal. Hoje está difícil até o waiver. Mesmo de 500 em 500 anos.

No dia 1º de maio de 1500, o escrivão Pero Vaz molhou a pena na tinta do deslumbramento. E da bajulação. Mal tinha pisado nas areias do Eldorado e só tinha maravilhas para dizer a D. Manuel, o Venturoso. Dom Manuel passou a venturosíssimo. Tudo era felicidade. O homem, e logo um português, tinha afinal deixado para trás o mundo da peste negra e das guerras. Do ódio e do fanatismo. Ia começar a nova era, com o Novo Mundo novinho em folha para todos os homens serem felizes.

Até 1530, com Martim Afonso de Sousa, o Brasil ficou uma espécie de reserva de mercado de Portugal. Intocado. Consta que os índios, desconfiados, viveram meio aflitos com aqueles 30 anos de silêncio e ausência. Tinham razão. O que veio depois não foi nada de estimulante. Pelo menos para os índios, que começaram a ser preados para a escravidão. O tempo rolou e foi-se escrevendo o que hoje conhecemos como a história do Brasil.

Uma história pouco edificante para o ex-Eldorado que, todavia, recebeu o nome de uma árvore — o pau brasil. Era melhor que tivesse continuado Ilha de Vera Cruz. Ou Terra de Santa Cruz. Estes nomes ao menos sugerem sofrimento e sacrifício. Só que no caso do nosso Calvário, com licença para a metáfora que é meio ímpia, a redenção está ainda distante. A miragem com que agora nos acenam é a entrada no Primeiro Mundo. O paraíso mudou de endereço.

Impacientes, os brasileiros que podem estão saindo atrás desse Éden lá fora. Os nisseis voltam ao Japão. Para a Itália vão os oriundi, a que a antiga pátria oferece a nacionalidade. Os moços de qualquer sangue estão na fila para conseguir um visto para os Estados Unidos. O ideal é um flat em Miami para quem tem dinheiro. Ou um chalé na Suíça. No passo em que vai, o Brasil acaba entregue às baratas. E importadas. Ou multinacionais.

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