Muito antes da moda ecológica, mais de uma vez também eu escrevi que o Brasil é um país com esta particularidade simpática: tem nome de árvore. Agora se diz que somos o único país do mundo a ter nome de árvore. A afirmativa é controvertida. O nome Brasil já estava nos mapas da cartografia muito anteriores a 1500. De qualquer forma, o pau-brasil é, sim, uma árvore.

Por causa de sua tinta vermelha como brasa, essa árvore despertou a cobiça dos conquistadores. A gente enche a boca para dizer que nossa pátria tem nome de árvore, mas convém parar por aí. Se a palavra resistiu ao tempo, a árvore, coitada, foi abaixo em pouco tempo. A derrubada das florestas chegou a tal ponto que o pau-brasil desapareceu. Virou raridade. Se hoje existe, já não é planta nativa, mas cultivada quase que em estufa. Uma joia. Tanto basta para não contar vantagem a partir do nome com que o Brasil foi batizado.

Se é questão de orgulho, devíamos ter feito para a Eco-92 uma bonita edição da carta de Pero Vaz de Caminha. Certidão de idade de uma pátria nascida em 1500, ela é também o primeiro texto da nossa literatura. A exuberância da terra, associada ao desejo cortesão de agradar ao rei, levou o escrivão a inaugurar nesta latitude o gênero ecológico. Sua carta é de fato um hino de amor à natureza. Nem os índios escapam de seu encantamento virgiliano.

Não haveria exagero em dizer que, literariamente falando, nunca nos afastamos dessa linha nativista, distinta da literatura portuguesa. Antes e depois do indianismo, a natureza nunca esteve ausente das nossas letras. Na Semana de 1922, no ciclo romanesco do Nordeste, em Guimarães Rosa, a nota dominante teve sempre esse acento telúrico. Telúrico é o grande Euclydes da Cunha, como é o irreverente Oswald de Andrade. Trazem todos a marca da terra.

Quanto ao Brasil, foi antes oficialmente Vera Cruz e Santa Cruz. A Cruz durou pouco mais de um decênio. Nem por isso deixa de ser árvore ― o Santo Madeiro dos místicos. Segundo os primeiros cronistas, os dois primitivos nomes foram afastados por influência diabólica. No lugar da crux immissa, o diabo fez prevalecer o nome que lembra o comércio, a cupidez e a primeira investida contra a floresta. E tudo por dinheiro. Vejam só que perigo. Bem diz o povo: falar é fôlego.

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