Há tempos que eu não aparecia por aquelas bandas. Região privilegiada, rica, riquíssima, começou com o ouro. Onde aparece o ouro, fica assim de gente. Mas por mais abundante que seja, o ouro acaba. Na Califórnia, o ouro acabou, mas não acabou a riqueza. Aumentou. Veio o ouro negro. Pode acabar de todo o petróleo, que a riqueza continua. Exuberante, entra pelos olhos, num delirante esplendor do consumismo.
Viagem corrida e improvisada, como foi a corrida do ouro, lá fui eu às cegas. Numa alteração de última hora, desci em San Francisco e não em Los Angeles. Está tudo muito bem, aquilo lá é mesmo o filé mignon do mundo. Mas eu tenho cá a minha cisma. Sim, com sismos. Foi só pisar em San Francisco e tomei ciência de que a terra tremia em Los Angeles. Já passei por isso e sei que nada no mundo mete mais medo do que terremoto.
Sou de fato um sujeito de sorte. Basta dizer que tenho saído ileso desse tipo de tremor. E de outros abalos. A terra tremer debaixo dos nossos pés, pode haver maior deslealdade? Se nada neste mundo é seguro, que ao menos o chão seja firme. Quem quiser que escorregue à vontade e caia. Mas sem a traiçoeira cumplicidade do solo. Ou do subsolo, que na Califórnia é rico e nervoso. Instalado no bem-bom de San Francisco, soube do terremoto pelo jornal e pela televisão.
Fica feio dizer, mas se o cataclismo é inevitável, pelo menos que seja longe. Esse teve o epicentro no Pacífico, um oceano belicoso e até irado. Quem vê nome não vê coração. O epicentro estava a 56 km da cidade de Eureka. Eureka, pra mim, era até agora só a exclamação de Arquimedes ao descobrir no banho o peso específico dos corpos. Pois na Califórnia é uma cidade, eureka! E foi só eu sair de San Francisco para a terra começar a rosnar também por lá os seus tremores e rancores.
Credo! Não se tem paz neste mundo. O jeito foi voar para o Havaí. Em busca do paraíso perdido. Na volta a Los Angeles, estava lá aquela zorra. No 11° andar do luxuoso hotel, fechei a porta da varanda para evitar o cheiro de queimado. Ou de incêndio. Tinha também fumaça, mas ficou lá fora, longe. O room service, mais lento do que na Bahia. Em que pese o nome angélico, Los Angeles mais parecia um trecho do inferno. E cá estou inteiro, no Rio. Pode não ser (ainda) o paraíso, mas onde é que é?