Não tem razão quem diz que no Brasil tudo continua como dantes no quartel de Abrantes. Vejam, por exemplo, o Magri. Já não é o mesmo. Mudou. Apareceu com um novo visual e jura que não recebeu os 30 dinheiros. Perdão, os 30 mil dólares. Se em vez de ministro do Trabalho tivesse representado o operário brasileiro num concurso de robustez, teria na certa se distinguido. Seu físico de manequim faria bela figura.
Atlético, podia ser galã de novela. Mexicana, talvez. Dono de uma força física descomunal, rasga um catálogo de telefones com as mãos. Quem quiser que não dê valor a isto. É um talento, que diabo. Há mérito nessa proeza, porque não se trata de um brutamontes que pega todo dia no pesado. O Magri é eletricitário. O neologismo designa uma categoria que já chegou ao sindicato, mas ainda não chegou ao dicionário.
Com a conclusão da CPI, o Magri voltou à primeira página, ao rádio e à televisão. E voltou de bigode. Diz ele que é para disfarçar um corte que deu no lábio. Imagino que foi fazer a barba de manhã e se viu no espelho. Viu com os próprios olhos a sua cara limpa. Ou a sua cara de pau, dirá quem quiser. A mão tremeu e ele se machucou. Aí, deixou crescer o bigode. Tem forma de um circunflexo.
Logo me ocorreu que pode significar o desejo de fechar a própria boca. Mas o homem continua falando pelos cotovelos. Suas falas têm um sabor coloquial que às vezes lembra o Nelson Rodrigues. Aliás, o Nelson anda na moda. No palco e fora do palco. No teatro e na vida real. Ou na vida como ela é. Partidário de uma estética do exagero, a gente hoje se inclina a acreditar que o Nelson não exagerava tanto assim. Mais uma vez a vida imita a arte.
Como a barba, o bigode é símbolo de virilidade. Faz parte do rito de passagem do adolescente. No homem maduro, tanto esconde, como revela. No caso do Magri, me pergunto se o bigode não exprime o desejo de mudança. Desejo interior que, insatisfeito e cego, aparece na forma do bigode. Diante da coação social, o nome enxovalhado, o Magri está dizendo: Estão vendo? Eu agora sou outro!