Para disputar 31 modalidades de esporte, mandamos a Barcelona a maior delegação que até hoje representou o Brasil nas sucessivas Olimpíadas. Daqui partimos com uma numerosa e boa equipe, para competir no arco e no atletismo, no basquete e no boxe, na canoagem e no ciclismo, na esgrima e na ginástica artística, no handebol e no halterofilismo, no hipismo e no hóquei sobre patins, no iatismo e no judô, na luta olímpica e na natação. Ufa! Mais esporte houvera e mais disputáramos, sobranceiros, quiçá olímpicos.

O Brasil só se animou a marcar presença nos Jogos Olímpicos em 1920, em Antuérpia. Foi lá que pisou pela primeira vez, país essencialmente agrícola, maior produtor de café do mundo. Grande porto, Antuérpia era fundamental para que a nossa rubiácea entrasse na Europa. Dependiam do café as nossas divisas em libras inglesas.

E que tal o nosso desempenho? Fizemos feio? Absolutamente! Com uma reduzida delegação, sem cartolas, lá chegaram os nossos atletas. E de cara arrebatamos logo uma medalha de ouro, igualzinho agora em 1992. Guilherme Paraense acertou na mosca e, com um tiro, anunciou ao mundo a chegada de mais uma potência esportiva, disposta a subir ao pódio. Daí pra frente, nunca deixamos de competir. E competir, que nos desculpe o barão de Coubertin, é desejar vencer.

Em 1932, em Los Angeles, o Brasil já se pretendia a grande república do hemisfério sul, a que um dia iria ter o peso e o prestígio da grande república do norte. Tio Sam mal saía da terrível depressão de 1929. Nós aqui queimávamos o café para sustentar o preço internacional e olhávamos com fé o futuro. E daí pra frente o país do futuro nunca deixou de comparecer aos Jogos Olímpios. Sem contar a do judoca Rogério Sampaio e a do time de vôlei, agora em Barcelona, abiscoitamos ao todo, de 1920 a 1988, sete medalhas de ouro. Nada mau.

Mas não convém olhar o quadro dos vitoriosos de quatro em quatro anos. Talvez nem seja preciso consultar uma enciclopédia das Olimpíadas. A verdade é que mais uma vez a gente volta para casa com um manto de melancolia. Barcelona não correspondeu às nossas expectativas. Não é o caso de buscar culpados, até porque o fórum para isto é a CPI do PC. E lá já acharam ouro demais.... Mas não contenho a pergunta: que é que há com os nossos atletas?

Com hino, bandeira e fanfarra, um atleta se sente, e é, um representante de sua pátria. Suas lágrimas de vitória ou de derrota têm aqui a nascente, como aqui vêm desaguar. Por que o Brasil sai daqui tão confiante e volta, se não sombrio, tão melancólico? É um caso para pesquisa e estudo. Precisamos saber até onde a pátria brasileira, com tanto ouro do Collorgate, agarra a camisa do atleta e lhe segura o ímpeto de vitória. Para as medalhas da frustração não é preciso correr e saltar. Jogar em suma — e jogar limpo, como jogaram os brasileiros em Barcelona. Será que embarcou na bagagem deles a nuvem do jogo sujo aqui dentro?

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