O deputado Jabes jura que não é sua a assinatura que aparece na carteira de seu irmão Abidiel. Antes de cogitar do jamegão, o que me intrigou foram os nomes. Jabes e Abidiel. Podiam ser bíblicos. Há um sem-número de nomes assim no Velho Testamento e a gente não se lembra de todos. Fui verificar e não encontrei nem Jabes, nem Abidiel. Não é de hoje que tenho essa preocupação com os nomes próprios de pessoas.

Há alguns anos vem se acentuando a tendência para dar ao recém-nascido um nome inventado. Ou falso. Até a república, quando não havia o registro civil e o catolicismo era religião oficial, o padre, se fosse o caso, impunha no batistério um nome cristão. E vernáculo. Assim era a tradição. Se não houvesse uma preferência familiar especifica, o bebê recebia o nome do santo ou da santa do dia, segundo o hagiológio cristão.

Em Portugal esse costume chegou a ser lei. No Brasil fomos sempre mais tolerantes. Daí o aparecimento de nomes indígenas, reflexo de um sentimento nativista. Com o indianismo, entraram na moda nomes de personagens dos romances populares. No Ceará, terra de José de Alencar, como em todo o Brasil, pipocaram as Iracemas. No extremo oposto, estão os nomes estrangeiros, como Lincoln, Wilson, Roosevelt. O pior é quando a admiração paterna recaiu sobre Hitler, Mussolini ou Stalin.

Um costume cada vez mais frequente é formar um nome a partir dos nomes materno e paterno. Uma ou duas sílabas de cada um, uma espécie de síntese simbólica. O resultado pode ser esdrúxulo, mas a intenção é repetir no inocente pimpolho a união conjugal do pai e da mãe. Assim aumenta a cada dia por estas bandas o rol de nomes estrambóticos ou esquisitos. Não sei se é o caso de Jabes, ou do seu irmão Abidiel.

O que está em jogo não é a origem do nome, mas da assinatura de Jabes. Falsa, diz ele. Verdadeira, diz a polícia. A técnica para comprovar a falsificação é apurada, mas sempre cabe a dúvida. Por que o irmão do deputado, ainda que fosse seu assessor, teria direito a uma carteira da Câmara? No fundo, aí está bem clara a nossa invencível vocação para o privilégio. O brasileiro não se contenta com o documento de identidade. E multiplica ao infinito o número das carteirinhas especiais. Todo mundo espera o momento da pergunta clássica: sabe com quem está falando?

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